Programa de Desenvolvimento Local Sustentável

Franciene Cristina da Silva

Introdução
Saber lidar com as partes interessadas de uma empresa é um exercício que exige entendimento da complexidade da teia de relações que se estabelece em sociedade e o reconhecimento da empresa de que faz parte da história daquela comunidade.

Ao captar recursos para a construção da unidade de Ivinhema, a Adecoagro assumiu o compromisso com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de investir no desenvolvimento social dos municípios de Ivinhema e Angélica no estado de Mato Grosso do Sul.

A Adecoagro é atualmente uma das principais empresas produtoras de alimentos e energia renovável da América do Sul. Com presença na Argentina, no Brasil e no Uruguai, as atividades a que nos dedicamos incluem a produção de grãos, arroz, oleaginosas, lácteos, açúcar, etanol, energia elétrica e algodão.

Desde que foi criada, no ano 2002, o crescimento da empresa se baseou na implementação de um modelo de produção sustentável e eficiente, trabalhando em terras próprias e gerenciando o risco por meio da diversificação.

Sabemos que todo novo empreendimento muda a forma como aquele território estava organizado, cria expectativas, mitos e medos.

A empresa afeta e é afetada por toda a teia de relações. Desta complicada teia social, criam-se arranjos que podem beneficiar as operações da empresa, ou impedir o avanço dos seus propósitos.

Este trabalho tem por objetivo essencial, apresentar como se deu uma experiência prática de aplicação dos conceitos de Responsabilidade Social nas atividades da área de Recursos Humanos ao apoiar a empresa na gestão estratégica e responsável do seu relacionamento com as comunidades de Ivinhema e Angélica, através da realização de um diagnóstico que demonstre as demandas para investimento social privado dos principais municípios da sua área de influência direta.

A nossa meta é apontar caminhos para que a empresa possa focar o seu investimento social neste território de modo a ser uma parte diferencial de um quebra-cabeça que encaixa as peças de prosperidade da empresa, da qualidade ambiental dos sistemas que a envolvem e da equidade social das comunidades em que atua.

Metodologia
Identificamos que para investigação das demandas sociais dos municípios pesquisados, apenas uma única abordagem de investigação não seria suficiente para analisar a realidade, pois as premissas da empresa para realização do diagnóstico foram:
·        Necessidade de realizar investimento social na comunidade de entorno do empreendimento sediado em Ivinhema/MS, como parte do acordo de parceria firmada com o BNDES;
·        Preocupação com a sustentabilidade do investimento a ser realizado em projetos sociais;
·        Apoiar projetos que possam ter retorno mensurável do investimento realizado;
·        A empresa se considera um ator importante para o desenvolvimento local e quer exercer o seu protagonismo social;
·        Pretende-se realizar investimento alinhado com as demandas da comunidade e vocação da empresa (causas em que acredita e quer fazer parte).

Seguindo ensinamentos de Richardson (1989), o método de pesquisa quantitativo caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas.

O diferencial do método quantitativo deve-se a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados, conduzindo a um resultando com poucas chances de distorções.

Percebemos que seria necessário também usar a dimensão do qualitativo para analisar o nosso objeto de estudo.

Por sua vez, para Minayo (1994) as relações entre abordagens qualitativas e quantitativas demonstram que:
·        As duas metodologias não são incompatíveis e podem ser integradas num mesmo projeto;
·        A pesquisa quantitativa pode conduzir o investigador à escolha deum problema particular a ser analisado em toda sua complexidade, através de métodos e técnicas qualitativas e vice-versa;
·        A investigação qualitativa é a que melhor se coaduna ao reconhecimento de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos.

Portanto, os métodos escolhidos para realização da pesquisa foram a junção das abordagens quantitativa e qualitativa.

O objeto deste estudo são trinta e duas  instituições sociais de gestão governamental e não governamental nos municípios de Ivinhema e Angélica.

As visitas as instituições dos municípios de Ivinhema e Angélica para a atividade de mapeamento, aconteceram no período de 18 a 26 de fevereiro de 2013, conforme agendamento prévio com cada instituição.

Para a coleta de dados, utilizamos as ferramentas de:
·        Visitas in loco nas instituições sociais para realização das entrevistas semiestruturadas com as principais lideranças locais;
·        Registros fotográficos;
·        Análise de documentos internos das instituições, como atas de reunião, estatutos, folders e sites da internet.

A empresa comunicou antecipadamente o objetivo deste mapeamento e tivemos muita receptividade para que as instituições nos mostrassem a sua realidade.

Foram visitadas trinta e duas instituições nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Meio-ambiente e Assistência Social, sendo vinte e sete na cidade de Ivinhema e cinco na cidade de Angélica.

O estudo foi dividido em três fases:

As entrevistas semiestruturadas captaram informações sobre critérios essenciais e de sustentabilidade das instituições.

Os dados coletados foram agrupados e analisados, permitindo a construção de um diagnóstico da realidade das instituições sociais nos municípios pesquisados.

Marco Conceitual
Para análise dos dados coletados na pesquisa in loco, usamos três referências principais:
·        Dados oficiais;
·        Exigências do BNDES para apoio a projetos socioambientais;
·        Pesquisa bibliográfica.

No município de Angélica, segundo o censo de 2010 do IBGE conta com 9325 habitantes, o PIB é de R$ 12.225,89 per capita e a população alfabetizada é de 7.435 habitantes.

Em Ivinhema, segundo o IBGE, o município possui 22.341 habitantes, o seu PIB é de R$ 8.989,65 per capita e a população alfabetizada é de 18.654 habitantes.

A média Brasil do PIB é de R$ 21.252, e constatamos nos dois municípios, a necessidade de desenvolvimento socioeconômico deste território.

A instalação da Adecoagro no município de Ivinhema, tem alterado a cultura da região, criando expectativas de um futuro melhor para a população e atraindo investimentos.

Como impactos negativos, menciona-se o aumento na locação de imóveis e a atração do fluxo migratório, o que na visão das instituições impacta sobretudo nos sistemas de saúde, educação e assistência social.

Os dois municípios possuem diversas instituições sociais e que atuam de forma conjunta com o poder público local e as empresas instaladas neste território.

De acordo com estudos de (Landim, 1999, p.47), no Brasil, estima-se que temos aproximadamente duzentos e cinquenta mil organizações de terceiro setor, utilizando cifras correspondentes a 1,5% do PIB, com projeção de chegar a movimentar 5% do PIB, nos EUA, as cifras movimentadas pelo Terceiro Setor estão na faixa de 6,5% do PIB.

Este aumento deve-se sobretudo, ao engajamento das empresas na causas sociais, seja através da criação de Fundações ou por meio de apoio financeiro a instituições das comunidades onde atua geridos por Departamentos específicos de Responsabilidade Social, Recursos Humanos ou doações de recursos definidos por executivos das empresas.

Os bancos de Investimento, a cada dia mais tem usado a dimensão de Sustentabilidade nos empreendimentos em que apoia, qualquer empreendimento deve ter o equilíbrio entre os 3 pilares, ou seja, econômico, social e ambiental.

Neste estudo, iremos considerar os critérios do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiamento de projetos sociais que compõe o empreendimento apoiado com aporte de recursos:

Financiar investimentos destinados à implantação, expansão e consolidação de projetos e programas de investimentos sociais realizados por empresas, associações ou fundações, isoladamente ou em parceria com instituições públicas ou associações de fins não econômicos, que objetivem a elevação do grau de responsabilidade social empresarial e que sejam voltados para a articulação e o fortalecimento de políticas públicas desenvolvidas nos diferentes níveis federativos.

A linha se divide em duas modalidades: apoio a investimentos no âmbito da comunidade e apoio a investimentos no âmbito da empresa.

Investimentos Socais de empresas. Disponível em: http://goo.gl/o8h9z. Acesso em: 07 set 2013.

A maior preocupação da empresa é o de propor um investimento que pudesse ser mensurado e que de fato, proporcionasse mudanças concretas nos municípios pesquisadas e que o investimento não fosse perdido com o término do projeto.

A forma planejada e monitorada de alocação dos recursos pode provocar transformações na sociedade, justamente porque eles serão geridos com o mesmo rigor e profissionalismo com que a empresa faz com seus outros investimentos. O retorno esperado aqui é o benefício social e, para tanto, é imprescindível adotar práticas de gestão e avaliação dos investimentos sociais, que devem ser estratégicos, planejados e com gerenciamento dos recursos e acompanhamento dos resultados. (Duprat, 2005, p.23).

Aliada a preocupação de não investir em algo que corresse o risco de não ter seu retorno sustentável, identificamos nas regras do BNDES para financiamento de projetos no âmbito Comunidade, devem ter articulação com atores locais, ou seja:

Investimentos sociais, não exclusivamente relacionados com o público interno da postulante, e que sejam preferencialmente articulados com o poder público local e/ou que visem somar esforços com programas ou políticas públicas, voltados para os seguintes grupos de ações:

Para ambiente externo com influência local e microrregional que tenham como público-alvo:·    As populações expostas a algum tipo de risco social e localizadas em comunidades do entorno ou das áreas de influência geográfica do cliente; e

·    Fornecedores locais de bens e serviços acessórios (vestuário industrial, brindes, alimentação, vigilância, pequenos reparos, transporte, dentre outros), tais como micro e pequenas empresas, empreendedores individuais e empreendimentos de economia solidária (“empresas sociais”, cooperativas e associações) com impacto direto na inclusão social naquela comunidade.
·    Para ambiente macrossocial que tenham ações que beneficiem segmentos da população nacional exposta a algum tipo de risco social, não diretamente associados a iniciativas empresariais ou nas áreas de influência do cliente.

Investimentos Socais de empresas. Disponível em: http://goo.gl/o8h9z. Acesso em: 07 set 2013.

O investimento financeiro, possui critérios que são analisados na tomada de decisão para aplicação de recursos, são avaliados, a liquidez, o risco, a taxa de retorno e o prazo de retorno. As empresas fazem tais análises a todo momento, pois só assim conseguem mensurar a efetividade da decisão quanto a aplicação dos seus recursos.

Para o investimento social, também devemos ter critérios analisados para tomada de decisão quanto a aprovação de um projeto.

Apenas doar sem acompanhar os resultados das suas doações é uma prática tradicional e não permite a empresa investidora acompanhar os resultados efetivos da sua doação em determinado projeto ou instituição.

Na obra de Duprat, 2005, em linhas bem gerais, um bom investimento social deve reunir quatro características básicas:

•          Catalisador
Ser capaz de acelerar mudanças.

•          Alanvacador
Ser capaz de engajar parceiros.

•          Inovador
Ter novas formas de solucionar problemas antigos.

•          Provocador de Mudanças
Medir o investimento social e sua influência nas políticas públicas.

As empresas estão se tornando cada vez mais criteriosas ao decidir pela aprovação de um recurso destinado a projetos sociais, utilizando-se de práticas do mundo dos negócios para realizar seu investimento social privado. Esta nova postura visa garantir efetividade no recurso doado e foco nos temas em que a empresa acredita e quer ter sua imagem institucional associada.

Resultados

Existe a percepção de que a empresa atualmente é o maior potencial de geração de emprego e renda na região e muitas instituições e Poder Público Local contam com este suporte da empresa, sobretudo o financeiro, através do aporte de recursos.

Vamos discorrer sobre os principais aspectos apreendidos critérios pré-definidos:

1)      Constituição Jurídica
O certificado de Utilidade Pública, é um título que às entidades, associações civis e fundações o reconhecimento como instituições sem fins lucrativos e prestadoras de serviços à sociedade.

Na cidade de Angélica, a ausência deste documento, evidencia que 50% das instituições visitadas, precisam adequar a sua constituição e na cidade de Ivinhema 67%.

O Estatuto Social é a “certidão de nascimento” da pessoa jurídica, pelas cláusulas do seu conteúdo se disciplina o relacionamento interno e externo da sociedade, atribuindo-se identidade ao empreendimento. Na cidade de Angélica, 20% das instituições, não possui este documento, o que impossibilita a articulação e em Ivinhema 100% possuem.

A Certidão Negativa de Débito é o documento emitido pela Secretaria de Estado da Fazenda dando prova da inexistência de pendências e débitos tributários da instituição. Na cidade de Angélica, 100% das instituições estão claramente cientes da importância de tal documento para efetivação das suas parcerias, em Ivinhema, apenas 43% estão com a CND em dia e 57% não possuíam tal documento no momento da pesquisa.

2)      Participação nos Conselhos
Os Conselhos de Direitos, são um dos mais estratégicos instrumentos de gestão das políticas públicas, são fundamentais na promoção e defesa da cidadania.

Em linhas gerais, os conselhos de direitos e de promoção de políticas sociais tem três atribuições para concretizar os princípios e dispositivos definidos na Constituição Federal.

São eles:
·        Deliberar políticas,
·        Controlar as ações;
·        Fiscalizar o orçamento municipal.

Os Conselhos são formados por representes do poder público e sociedade e promovem a ampliação dos espaços de mediação, negociação e decisão.

A presença da sociedade civil nos Conselhos, garante aos cidadãos a possibilidade de acesso às informações oficiais e ações públicas.

Esta participação facilita o controle, permitindo que projetos e ações se voltem aos problemas mais coletivos e prioritários, e os recursos financeiros sejam efetivamente visíveis e dirigidos à maioria da população, na linha do atendimento às suas necessidades básicas.

Os municípios de Angélica e Ivinhema, estão minimamente organizadas no que diz respeito a implantação dos Conselhos de Direitos na cidade, porém neste estudo, não conseguimos avaliar a qualidade da representatividade.

Apenas duas lideranças locais citam terem participado em capacitações realizadas por Universidade Federal de MS e Fórum das entidades não governamentais.

Como oportunidade de melhoria, percebemos a necessidade de criação de outros Conselhos importantes como o de Diretos da Pessoa com Deficiência, Comunidade Negra, Idoso, Prevenção ao uso de drogas e outros, que possam alavancar o desenvolvimento social da comunidade.

3)      Organização interna e equipe de trabalho
Pudemos constatar que na cidade de Angélica, a “Wichlist” (Lista dos sonhos) é enorme, nas falas dos representantes das instituições, percebemos poucas iniciativas em termos de buscar parcerias técnicas ou para desenvolvimento dos recursos existentes.

A expectativa das instituições é que alguma empresa ou financiador bata a sua porta e conceda os recursos que julgam necessários, não se tem estudos técnicos para justificar a necessidade de se ampliar os recursos existentes.

Somente boa vontade não traz resultados concretos e sustentáveis. 

No município de Ivinhema, percebe-se ampla participação do Poder Municipal através da contratação de funcionários para atuar nas instituições não governamentais.

Nas instituições onde não se tem a participação do município, a folha de pagamento utiliza a maior parte de recursos do orçamento. Detalharemos este aspecto no item 6. Sustentabilidade neste estudo.

A fala de que os recursos são insuficientes e que necessitam de mão de obra mais especializada é inserida na maior parte dos discursos.

Em todas as instituições pesquisadas, identificamos a fala de que os recursos humanos são insuficientes e as capacitações que tem oportunidade de participar, não atendem a todas as demandas.

Existe uma demanda forte de apoio do profissional em Psicologia, pois relatam as dificuldades em saber lidar com as carências materiais e de relacionamento do seu público interno.

No que tange a demandas de capacitação, percebemos a preocupação em estender o conteúdo para os níveis de staff, como merendeiras, vigias, auxiliares de limpeza e outros.

Em 100% das instituições, não existe nenhuma capacitação para os dirigentes eleitos, o que explica os problemas de gestão evidenciados nas entrevistas.

Em ambos municípios, existe uma forte tendência a vitimização e apelo a caridade, não se fala em gestão.

4)      Estrutura Física
Na cidade de Ivinhema, 54% das instituições, os prédios são próprios, o que demonstra potencial de investimentos estruturais para tornar a instituição mais adequada ao desenvolvimento das suas atividades. Em 46% das instituições as sedes são cedidas pela Prefeitura, Fórum ou locadas

O mais preocupante é a inadequação física das instituições, em Ivinhema, 55% das instituições estão com instalações classificadas como ruim e regular e Angélica 40%.

5)      Foco do Investimento
100% das instituições da cidade de Angélica não possuem sua Missão/ Visão e Valores definidos e não se enxergam como empresa do social, com metas a serem cumpridas, em Ivinhema 91%.

Pelas falas das instituições, percebemos foco de atuação muito frágil e sem potencial de comprovação de resultados alcançados.

Na destinação do investimento social referente ao Projeto BNDES, uma parte dos recursos terá que ser aplicada em demandas concretas como obras, pois existe um clamor da sociedade em melhorar seus espaços para dar atendimento de qualidade a sua clientela.

6)      Sustentabilidade
A maior parte das instituições tem forte dependência de recursos oriundos de convênios.

Na cidade de Ivinhema, das 25 instituições que participam desta pesquisa, 24 tem fonte de recurso principal por convênios e apenas 1 possui parceria com empresas.

Questionamos as instituições sobre a existência de reserva financeira em caso de retirada de algum parceiro financeiro e 88% informaram que não, apenas 12% disseram que sim, na cidade de Angélica, 60% informaram que não, o que demonstra baixo potencial de sustentabilidade.

Outros aspectos de sustentabilidade também não foram identificados nesta comunidade, a maior parte, bem simples de serem executados, como o reaproveitamento de resíduos e segurança alimentar.

As instituições alegam possuir outras estratégias de captação recursos, porém são campanhas esporádicas, como jantares beneficentes, não existem estratégias fundamentadas de captação de recursos.

Outros aspectos de sustentabilidade também não foram identificados nesta comunidade, a maior parte, bem simples de serem executados, como o reaproveitamento de resíduos e segurança alimentar.

As instituições localizadas na zona rural vendem sobras de alimentos para alimentação animal (porcos), o que não é permitido por normas da Vigilância Sanitária.

O % de gastos com folha de pagamento das instituições chamam bastante a atenção, este é um dos motivos de estruturas físicas com muitas demandas de reparos, não tendo sobrado recurso para investir no empreendimento social

7)      Potencial de replicação do projeto
Os indicadores para mensuração dos resultados ainda são muitos frágeis para avaliar qualquer resultados do serviço prestado a população. Não existe a cultura de utilização de ferramentas de gestão ou acompanhamento de indicadores oficiais como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica no Brasil) ou o Prova Brasil, como por exemplo.

As metas apontadas pelas instituições ou são muito simples ou de fato, extremamente audaciosas, mas de fato, nada sustentáveis e estruturadas.

Todas as instituições tem a percepção de que seria um impacto muito grande para a comunidade o encerramento das suas atividades, pois prestam serviços essenciais a sociedade.

Existe o temos da falência, mas admitem que não tem nenhuma estratégia para impedir que isso aconteça ou plano de contingência de caso de retirada de patrocínio.

Na comunidade não existe nenhuma nova tecnologia de intervenção social e que possa ser replicada.

De fato, percebemos que os dirigentes são muito sonhadores, mas não sabem como fazer para dar concretude a esses sonhos.

É notório a percepção de que o conceito de sustentabilidade é desconhecido pelos entrevistados e que a falta deste conhecimento prejudica a gestão das instituições.

Não identificamos tecnologia social, replicam-se modelos conservadores de atendimento, focando nos mínimos sociais.

Esta vontade de agir, de fazer a diferença, é positiva e precisa ser lapidada para trazer resultados concretos e transformadores.

A maior carência não é a falta de recursos e sim o capital intelectual para fazer uma boa gestão social, de tornar a instituição rentável, de atuar em rede e construir uma rede de ações sustentáveis, duradouras e que promovam o bem estar social. As instituições visitadas querem sair da posição em que se encontram, sabem que ainda não estão na posição que a sua população usuária necessita, mas não sabem para onde ir.

8)      Engajamento e capacidade de articulação
As instituições possuem parcerias para realização dos seus trabalhos, porém o maior parceiro é o Governo com 66%, 19% possuem parceria com Universidades, mesmo que para atividades pontuais e 15% com empresas da região, como a Adecoagro e Someco.

Em Angélica, as instituições possuem parcerias para realização dos seus trabalhos, porém o maior parceiro também é o Governo (50%),

Evidenciamos nos dois municípios, baixa capacidade de articulação e engajamento.

Não foi citada a parceria com nenhum órgão de fomento nacional ou internacional e nem existe captação de recursos via projetos.

A estratégia de voluntariado como forma de engajamento a uma causa é muito pouco utilizada na comunidade de Ivinhema possui apenas 24% possuem voluntários nas instituições e de forma não estruturada e em Angélica não é utilizada.

As instituições reconhecem a importância, mas não fazem nenhum trabalho de sensibilização para engajar outras pessoas a seus propósitos.

Existe boa vontade, mas poucos conhecimentos técnicos, conforme pode ser percebido na tabela abaixo:

Nas falas das lideranças comunitárias, percebe-se que a empresa Adecoagro desperta nos atores sociais, a esperança de que vá resolver seus problemas com o aporte de recursos nas suas necessidades.

Na matriz de classificação, apenas três instituições apresentaram potencial de sustentabilidade na gestão social, embora ainda tenham muitas oportunidades de gestão e muitas instituições em situações críticas de gestão e que precisam de apoio através da revitalização das estruturas físicas e conhecimentos de gestão.

Após mergulhar na realidade que circunda o empreendimento da Adecoagro, a constatação mais forte que tivemos é a de que a empresa pode potencializar e otimizar a sua participação neste território.

Conclusão
A empresa induz ao desenvolvimento do território e precisa captar as suas ameaças e oportunidades.

O conhecimento e domínio das projeções do impacto do empreendimento no território, serão importantes importante para a empresa entender o seu impacto e as dificuldades que terá no futuro para atrair e reter talentos. As pessoas buscam o emprego, mas também qualidade de vida para suas famílias.

Esse conhecimento e domínio devem ser divididos e construídos com a sociedade.

Os principais resultados observados através da análise do discurso e dados quantitativos foi de que a empresa Adecoagro desperta nos atores sociais, a esperança de que vá resolver seus problemas com o aporte de recursos nas suas necessidades, forte dependência de doações, ausência de parcerias para captação de recursos, estruturas físicas inadequadas para atendimento à população usuária e gestão ineficiente dos recursos humanos e financeiros. Os resultados do mapeamento foram apresentados a Adecoagro e provocaram a reflexão das práticas atuais.

Ocorreu o amadurecimento de que o caminho mais adequado para o investimento social é atuar com projetos estruturados e com parcerias sustentáveis que permitam a continuidade do projeto sem os recursos da empresa.

A busca de parcerias, de criação de uma rede de atores sociais capazes de influenciar e serem influenciados é o caminho mais adequado para o Programa Adecoagro.

Este tipo de Programa é altamente recomendado, pois:

  • Gera alto impacto socioeconômico sobre o território;
  • Agrega valor a imagem da empresa;
  •  Promove a ruptura com o passado e cria outras possibilidades de relacionamento e articulação entre lideranças locais;
  • Cria na comunidade, a cultura de investimento social em bons projetos e consequente profissionalização da gestão social local;
  •  Possibilita a captação dos recursos disponíveis e ainda não utilizados.

A partir das conclusões compartilhadas neste artigo, foi elaborado o Programa de Desenvolvimento Local Sustentável, uma iniciativa que reúne parcerias com Universidades, Prefeituras, Instituições e empresas através de projetos inter-relacionados e assentados nos pilares de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental.

Desenvolvimento Econômico
·        Projeto Conhecer: Aprofundar o conhecimento da realidade atual do município de Ivinhema e criar projeções sobre o impacto do empreendimento Adecoagro no território.

Desenvolvimento Social
·        Projeto Fortalecer: Capacitação gerencial dos gestores das organizações governamentais e não governamentais, por meio da aquisição de conteúdos relacionados a legalidade, sustentabilidade e capacitação de recursos.
·        Projeto Território do Saber: Concretizar a importância do incentivo e da prática da leitura nas séries iniciais, como sendo um processo contínuo no processo ensino-aprendizagem, melhorando a formação intelectual da criança e oportunizando formas sadias de lazer, cultura e diversão.
·        TransformAção: Adequar as estruturas físicas para que se tornem mais acolhedoras e seguras para a população usuária.
·        Educa Jovem: Instrumentalizar os cursos de ensino profissionalizantes disponíveis no Colégio Agrícola de Ivinhema.

Desenvolvimento Ambiental
Aterro Sanitário: Contribuir para a instalação do aterro público municipal de uso compartilhado por municípios de Ivinhema e Angélica.

Todos os projetos possuem indicadores para acompanhamento dos resultados e medir o impacto das suas ações na comunidade.

O conhecimento e domínio das projeções do impacto do empreendimento no território, são elementos importantes para a empresa entender o seu impacto e as atuar nas dificuldades para atrair e reter talentos em localidades distantes de grandes centros, com maior oferta de infraestrutura e serviços.

As pessoas buscam o emprego, mas também qualidade de vida para suas famílias e comunidade onde estão inseridos. Este é o desafio das empresas cidadãs, crescer de forma sustentável, respeitando a cultura local e promovendo o empodeiramento das comunidades onde se instala. É preciso ensinar a pescar e não simplesmente dar o peixe. Os resultados atingidos no Programa de Desenvolvimento Local Sustentável serão matéria-prima para outro artigo.

Referências bibliográficas
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Duprat, C. A empresa na comunidade: um passo-a-passo para estimular sua participação social. São Paulo: Global: Porto Alegre, RS:IDIS,2005.
Conselhos de Direitos e Formulação de Políticas Públicas - Patrícia Helena Massa Arzab - Doutoranda na Faculdade de Direito da USP e Procuradora do Estado de São Paulo.http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/politicapublica/patriciamassa.htm
Conselhos gestores e democracia participativa- Luiza Cristina Fonseca Frischeisen Caderno da Cidadania Poder ocal. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/cadernos/cid200820001.htm
Landim, L.; Beres, N. Ocupações, despesas e recursos: As organizações sem fins lucrativos no Brasil. 1°Ed. Rio de Janeiro, 1999, p.47.
Lyra, R. P. A Nova Esfera Pública da Cidadania. 1996. Editora Universitária. UFPB.
Minayo, M. C. S. O desafio do conhecimento científico: pesquisa qualitativa em saúde. 2ª ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 1994.
Pereira, P. A. P. 2005. SDH/SG/PR. Série: Normas e Manuais Técnicos, n° 1.
Richardson, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1989

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