Saúde Bucal com Ênfase no Bruxismo e Distúrbios de Articulação Têmporo Mandibular no mbito da Polícia Civil

Simone Alice Vasconcellos 1

Introdução

É do conhecimento de todos que o trabalho do policial civil como participante ativo dentro das instituições de segurança pública é associado a riscos inerentes a profissão e pressões cotidianas. Esta realidade de trabalho associada aos poucos serviços odontológicos oferecidos tem trazido sérios problemas a essa categoria. A dor, dificuldades para mastigar, ou problemas estéticos podem gerar grandes desconfortos além de sofrimentos físicos e emocionais, trazendo prejuízos consideráveis à saúde geral. Diagnósticos precoces de problemas de saúde bucal proporcionam tratamento menos complexos, mais eficiente, menos traumático e menos onerosos. Problemas bucais trazem para a saúde física e emocional desses profissionais de segurança pública, efeitos devastadores sobre gengivas, dentes e outras estruturas da boca (músculos e articulações) que atingidas fortemente, dão origem a dores e sofrimentos físicos, nesse tocante apresentamos a problemática dos casos de bruxismo e DTM dentro da Polícia Civil de Pernambuco.
Vale à pena destacar que a cavidade oral apresenta uma situação altamente vulnerável, pela sua comunicação quase permanente com o meio externo. Por essa razão, o papel do dentista é relevante no campo construtivo da Higiene do Trabalho: para o reconhecimento e prevenção dos riscos ambientais causadores de manifestações orais de doenças profissionais e para correção de lesões orais já instaladas. Dessa forma esses profissionais de segurança pública que possuem problemas bucais estão propensos a ter não apenas a doença, mas seu rendimento reduzido no trabalho, diminuindo a sua produtividade observamos então a importância no estudo desses casos de bruxismo e DTM, a relação das tensões decorrentes da função policial e os casos que tem crescido dentro da instituição.
RODRIGUES et. al. (13) e MAZZILLI (5) conceituam que a qualidade de vida englobando a saúde bucal permite o monitoramento periódico dos servidores favorecendo um clima laboral saudável. Na odontologia do trabalho o dentista deve interagir não apenas com a equipe multidisciplinar para o atendimento como também com o meio onde esse paciente está inserido, para compreender em sua plenitude as influências que o ambiente e a própria atividade laboral podem afetar o trabalhador. Dessa forma, a odontologia do trabalho cumpre papel fundamental no planejamento das ações de saúde, analisando o ambiente laboral junto com outras especialidades e propondo medidas de promoção e proteção da saúde.

Objetivos Gerais

Nosso principal objetivo é a organização de práticas e ações em serviços de saúde bucal voltadas para evitar que as pessoas se exponham a fatores determinantes de doenças bucais como também tratar os casos já instalados para diminuir o sofrimento dos pacientes, proporcionar condições de cuidado diante da patologia (DTM e bruxismo) e melhorar sua qualidade de vida. Através da informação e da vigilância na Saúde do Servidor desejamos criar possibilidades para:
  • Diminuir os riscos a doenças bucais: detectar, conhecer, pesquisar, analisar e monitorar os fatores condicionantes da saúde relacionados aos ambientes e processos de trabalho com a meta de planejar, avaliar e implantar intervenções que reduzam os riscos ou agravos à saúde.
  • Incentivar condutas adequadas à melhoria da qualidade de vida voltadas para as necessidades e a realidade dos Policiais Civis.
  • Acesso a informação: Orientação sobre o bruxismo e DTM, orientar quanto ao tratamento, aos cuidados de como evitar. Ensinar sobre a preocupação com a saúde bucal e que devem ser feitas visitas periódicas ao consultório odontológico para melhorar a qualidade de vida e saúde das pessoas.

Objetivo Específico

Este trabalho tem por objetivo expor a existência de casos de bruxismo e DTM dentro da policia civil, como situações de estresse e as tensões cotidianas do trabalho policial afetam também a cavidade bucal e estruturas de suporte. A importância de orientar, identificar e tratar essa problemática na saúde bucal dos policiais civis de Pernambuco.
  • Promover a saúde bucal dos policiais civis através de palestras, oficinas e orientação sobre o bruxismo e DTM.
  • Incentivar consultas regulares ao dentista. Orientar no cuidado e na importância em se manter uma saúde bucal de qualidade através de exames periódicos de controle.
  • Exame clínico odontológico. Avaliar casos já instalados, bem como orientação para o tratamento.
  • Moldagem e confecção de placa miorelaxante de silicone nos casos onde for diagnosticado o bruxismo, briquismo, ou DTM.
  • Monitoramento periódico dos casos acompanhados pela DIVSA.Criação de um banco de dados para observar a incidência e prevalência desses problemas no quadro de servidores da Policia Civil. Criar medidas preventivas através da orientação e controle para evitar surgimento de casos mais complexos dentro da Polícia Civil.
  • Mostrar a importância na informação, diagnóstico e tratamento dos casos de bruxismo e DTM e as situações de risco ocupacional aos quais os policiais são expostos diante das mais diversas atividades que envolvem a função policial.

Marco Conceitual

O sistema mastigatório é uma unidade complexa designada para desempenhar as funções de mastigar, deglutir e falar. Durante a função normal do sistema mastigatório podem ocorrer eventos que influenciam essa função. Estes eventos podem ser tanto de origem local quanto de origem sistêmicas. Quando um evento ultrapassa a tolerância fisiológica individual, ultrapassando seu nível crítico, conhecido como tolerância estrutural, começam as alterações teciduais. Geralmente o colapso inicia pelas estruturas com menor tolerância estrutural, e os locais de potencial de colapso: são os músculos, a ATM (Articulação têmporo Mandibular), as estruturas de suporte dos dentes (gengiva,ligamento periodontal e osso alveolar) e os dentes propriamente . Se as estruturas mais fracas forem os músculos, o indivíduo normalmente sente os músculos sensíveis e apresenta dores durante os movimentos mandibulares. Isto é relatado como limitação de abertura da boca com dor. Se as ATMs são o elo mais fraco, normalmente ocorrem dor e articulações sensíveis. As articulações podem também produzir sons como estalidos ou crepitação. Às vezes, os músculos e articulações toleram as mudanças; mas por causa do aumento da atividade muscular (bruxismo), o elo mais fraco finda sendo tanto as estruturas de suporte dos dentes como os próprios dentes, estes então mostram mobilidade ou desgaste. Seja qual for o local comprometido, a dor é um dos sinais mais claros relatados pelos pacientes.
  • É importante salientar algumas informações sobre a atividade muscular mastigatória: elas podem ser divididas em dois tipos básicos:
  • Atividades funcionais - as qual incluem: mastigar, falar e deglutir; - são controladas pelos músculos, o que permite ao sistema mastigatório desempenhar as funções necessárias com o mínimo de dano e risco para as estruturas e para os pacientes.
  • Atividade parafuncional (não funcional) a qual inclui apertar, ranger os dentes (bruxismo) e vários hábitos orais. São potencialmente destrutivas e desencadeadoras dos processos dolorosos. As atividades parafuncionais podem ser divididas em diurnas e noturnas. Os clínicos devem reconhecer que a maior parte das atividades parafuncionais ocorre em um grau subconsciente; em outras palavras, os indivíduos não sabem de seus hábitos de ranger ou morder bochechas. Assim, as de hábito diurno devem ser identificadas para orientar o paciente, enquanto as de hábito noturno devem ser identificadas geralmente por um parceiro de sono noturno. O termo hiperatividade muscular tem sido usado também para descrever qualquer aumento na atividade muscular acima daquela necessária para a função. Hiperatividade muscular, portanto, inclui não só atividades parafuncionais, como apertar os dentes, bruxismo e outros hábitos orais, mas também qualquer aumento do nível do tônus muscular. Algumas hiperatividades musculares podem nem estar envolvidas com contato de dente ou movimento mandibular, e sim representar meramente um aumento na contração estática do músculo por estresse ou tensão nervosa por exemplo.
  • Outro item a ser pesquisado no paciente com dor orofacial é período dos acontecimentos. Se o paciente tem dor e tensão muscular logo pela manhã, pode-se suspeitar de bruxismo.
  • O Bruxismo é uma desordem funcional que se caracteriza pelo ranger ou apertar dos dentes durante o dia ou, mais comumente, durante o sono, pode fazer os dentes ficarem doloridos ou soltos, e, às vezes, partes dos dentes são literalmente desgastados, pode acarretar a destruição do osso circunvizinho e do tecido da gengiva e pode levar a problemas que envolvam a articulação da mandíbula, como o Distúrbio da articulação têmporo-mandibular (DTM). Causas: sensações de ansiedade, estresse, raiva, frustração ou tensão, alinhamento anormal dos dentes superiores e/ou inferiores (má oclusão); apeia do sono; cigarro, álcool, cafeína. Os principais sinais e sintomas de bruxismo são: dor e/ou hipertrofia da musculatura da face, desgaste anormal dos dentes, língua e bochechas, quebra de dentes e de restaurações (sem outros motivos). Ao acordar, a pessoa pode relatar travamento da mandíbula e/ou dor. O tratamento de escolha provável é um aparelho oclusal que altera atividade induzida do sistema nervoso central, também conhecida como placa miorrelaxante.
  • A disfunção é um sintoma clínico comum associado com as desordens da musculatura mastigatória. Quando os tecidos musculares forem solicitados em excesso, qualquer contração ou estiramento aumenta a dor. Em específico no tocante a odontologia temos a Disfunção da Articulação TêmporoMandibular (DTM) que conceitua-se como o funcionamento anormal dessa articulação atualmente a causa das DTMs é tida como complexa e multifatorial. A disfunção da ATM está relacionada a hábitos comuns, como o morder objetos estranhos, roer unhas, mastigar chicletes, postura da cabeça (para frente), o de prender o telefone com o queixo ou ainda apresentar fatores relacionados com o estresse, depressão, ansiedade ou eventos traumáticos. lassidão ligamentar, ou ainda: artrites, traumas, tumores, deslocamentos do disco, perfurações, travamento mandibular e queixo caído. Quando existe a disfunção, o paciente apresenta sintomas, como dor de cabeça, dor de ouvido e/ou zumbidos, dor ou cansaço dos músculos da mastigação, ruídos articulares (estalos ou crepitação) e dificuldade para abrir a boca. Observar pessoas com DTMs, nota-se que elas frequentemente rangem ou apertam seus dentes à noite, o que poderá “cansar” os músculos mastigadores e causar dor. Com o passar do tempo trazem problemas. Alguns especialistas sugerem que o estresse físico e ou mental poderá causar ou agravar uma DTM. No entanto, não está claro se o estresse é a causa do ranger/ apertar e subsequente dor, ou se é resultado devido à presença de dor e disfunção mandibular crônica. De qualquer forma, a história médica deve incluir questionamentos sobre situações atuais que possam ter gerado estresse ao paciente com dor.
  • Bruxismo noturno ou do sono (BS)- Item a parte deve ser considerado o bruxismo noturno. Geralmente associada com microdespertares. Este não parece estar relacionado aos contatos dentais, e sim mais intimamente ligados às mudanças nos estágios do sono e do nível de estresse emocional. De acordo com a Academia Americana de Dor Orofacial e a Associação Americana de Desordens do Sono, o bruxismo noturno é caracterizado por atividade parafuncional noturna e ou involuntária dos músculos mastigatórios, rítmica ou espasmódica, podendo apresentar apertamento e ou ranger dos dentes. Hereditariedade, fumo e excesso de consumo de café são alguns fatores de risco para o desenvolvimento. Atualmente também é aceito que o aumento dos níveis de estresse podem desencadear esta disfunção.
  • Dores musculares- A dor sentida nos tecidos musculares é denominada mialgia. A mialgia pode aumentar de acordo com o nível de uso muscular. Embora a origem exata deste tipo de dor muscular seja debatida, alguns autores sugerem que ela está relacionada com a vasoconstrição de nutrientes arteriais relevantes e com o acúmulo de subprodutos metabólicos nos tecidos musculares. A severidade da dor muscular esta relacionada com a atividade funcional do músculo envolvido. Portanto, os pacientes geralmente relatam que a dor decorrentes do bruxismo estão associadas a fadiga e tensão muscular. A dor pode ser considerada como crônica quando tiver duração de pelo menos seis meses ou mais. A duração da dor, entretanto, não é o único fator que determina a cronicidade. Um fator adicional que deve ser considerado é a continuidade da dor. Quando uma situação de dor é constante, sem períodos de alívio, as manifestações clínicas de cronicidade se desenvolvem rapidamente. Por outro lado, se a dor for interrompida com períodos de remissão, ela nunca se tornará uma desordem crônica.
Portanto, os pacientes geralmente relatam que a dor mialgica é um tipo de dor profunda e se torna constante, pode produzir efeitos excitatórios centrais. Se a dor torna-se central, as formas de tratamento também se tornam mais complexas. Verificamos que a literatura salienta que a dor na musculatura mastigatória de sujeitos com DTM parece estar muito relacionada a estresse emocional, que inclusive gera a ocorrência de hábitos parafuncionais, estando ambos contribuindo para o surgimento ou manutenção da dor. Considerando que nos dias atuais a atividade profissional de muitos pacientes tem cada vez mais se tornando estressante (como no caso da atividade policial), existe uma tendência que haja um aumento do número efetivo de pacientes que procuram tratamento para dor orofacial nos consultórios odontológicos.

Metodologia

Desde 2016 quando foi iniciado o setor de odontologia na Divisão de Saúde da Polícia Civil de Pernambuco nosso principal objetivo foi observar não apenas a situação bucal dos policias civis como também proceder a uma avaliação metódica junto com uma equipe multidisciplinar na área de saúde (Médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionista, Fisioterapeuta, Educador físico e farmacêutico) para observar as situações complexas de adoecimento físico e mental e de como o estressante trabalho policial influencia na saúde geral desses profissionais de segurança pública.
Procedemos a uma análise da literatura (bibliográfica) sobre os assuntos de Bruxismo e DTM e a Odontologia do trabalho no sentido de correlacionarmos esses achados clínicos a situação da atividade laboral dos policiais para podermos elucidar e orientar através de palestras e explicações sobre as patologias, sobre causa, diagnóstico, sintomatologia, tratamento e prevenção. Procedemos da seguinte forma:
Nossa área de atuação é tanto na unidade da Divisão de Saúde da Polícia Civil de Pernambuco onde procedemos a um atendimento clínico - consultório Odontológico, como nas delegacias através de visitas com palestras, orientações e inspeção técnica.

Nas Delegacias
  • Palestras abordando assuntos como: DTM (Disfunção de Articulação Têmporo-Mandibular), placa mio relaxante e bruxismo
  • Utilizamos como material didático para as palestras e divulgação: folders, banners, cartazes, slides e cartilhas de saúde bucal.
  • Visita técnica Ocupacional: Inspeção e avaliação de pontos estratégicos importantes e orientação para melhoria e aproveitamento das condições das unidades (condições dos banheiros, pias, se há condições para a higiene dentária no trabalho), se o ambiente é muito estressante, ruidoso, movimentado, desgastante.

Na Divisão de Saúde (unidade de trabalho)

O diagnóstico é feito baseado em uma anamnese completa, exames clínicos e exames radiográficos apropriados quando necessário, ou ainda outros testes de diagnóstico. O paciente deve descrever os sintomas detalhadamente, feito um exame clínico simples da face e mandíbula e é realizado através de palpação das ATMs e músculos mastigadores, a fim de se determinar presença de dor ou sensibilidade. Auscultação de ruídos articulares, observação de limitação ou travamento dos movimentos de abertura e fechamento da boca são outros métodos utilizados. Também é importante conferir a história médica e odontológica do paciente. Na maioria dos casos, essas informações já são suficientes para identificar a dor ou o problema mandibular, realizando um correto diagnóstico para orientar o tratamento. Técnicas de imagem como ressonância magnética e tomografia, são necessárias apenas quando existe suspeita de condições como artrite ou em vigência de dor, ruídos articulares, limitação ou travamento dos movimentos de abertura e fechamento da boca de dor persistente e/ou outros sintomas que não respondem adequadamente à terapia inicial instituída. Obtendo uma concordância sobre essas diretrizes será feito um diagnóstico dentre as desordens articulares, musculares e interferências oclusais e, se necessário, alguma forma de tratamento específica para a situação existente.
  • Exame clínico intra-oral: Observar dentição: É necessário observar: dentes rígido ou cariados, restaurações defeituosas, infiltrações, retrações gengivais, mobilidade dentária, perda de dentes, manchas por nicotina ou corantes, mobilidade dentária, fístulas, edemas gengivais e de fundo de saco, ,tamanho dos dentes, pacientes que se queixam de restaurações que caem constantemente. Observar: abertura de boca, necessidade de reabilitação oral, bordas dentárias fraturadas- incisais ou oclusais. Avaliação da oclusão do paciente: sobre mordida, desvio de linha media, mordida em topo, apinhamentos, (classe I,II, III), giroversões, mal posicionamento dentário, assimetria facial, desvio de linha média, feridas na boca ou mucosa harmonia de face e se os problemas são apenas de ordem estética ou podem trazer alterações de funcionalidade nesses pacientes. Interferências oclusais- Um dos fatores reconhecidos como desencadeante de parafunção, como já dito, são as interferências oclusais, que levam a sintomas musculares. Se as interferências oclusais criam sintomas musculares, a odontologia deve ser o principal provedor de tratamentos para a maioria das DTMs. Caso não seja tratada a interferência oclusal, esta pode se tornar crônica. Ao se tornar crônica, a resposta muscular é alterada. Assim, a interferência oclusal crônica altera a atividade funcional de uma maneira que altera o engrenamento muscular para evitar um contato potencialmente prejudicial e executar a função normal. Geralmente isso gera alteração da posição tridimensional mandibular e resulta em dor na ATM do paciente.
  • A alteração da condição oclusal não é geralmente indicada desde que esta não seja um fator etiológico para a dor do paciente. Por outro lado, se o paciente relata que a dor começa imediatamente após uma alteração da oclusão, como uma restauração recente, e está presente a maior parte do tempo, deve-se suspeitar de que a condição oclusal seja o fator etiológico em potencial. Uma avaliação adequada deve ser feita para determinar a terapia mais apropriada.
  • A má oclusão súbita é outro tipo de disfunção. A má oclusão súbita refere-se a qualquer mudança repentina na posição oclusal que tenha sido criada pela desordem. Uma má oclusão súbita pode resultar de uma mudança repentina no comprimento de repouso de um músculo que controla a posição mandibular. Assim, uma interferência oclusal pode ser o fator desencadeante para uma dor muscular.
  • Exame na área de ATM com a finalidade de identificar: deslocamento, movimentação mandibular para lateralidade ou algia. Auscuta da articulação (estalos, creptação) ao abrir e fechar a boca, desconforto, edemas. Se o paciente apresenta dores de cabeça freqüente ou dores de ouvido, se tem dificuldade ou cansaço ao mastigar determinados alimentos. O tratamento inicial instituído deve ser, sempre que possível, conservador e reversível, já que pode haver associação de etiologias no processo doloroso experimentado pelos pacientes. Os tratamentos conservadores são bem simples e usados em DTMs que não sejam severas e nem de ordem degenerativa. Estes tratamentos não invadem os tecidos da face, mandíbula ou ATMs, e podem ser realizados por qualquer clínico geral que esteja consciente do tratamento a ser instituído.
Tratamentos reversíveis não causam alterações permanentes na estrutura ou posição da mandíbula ou dentes. Muitas vezes uma terapia de suporte usada pelo paciente, tal como manter uma dieta macia, aplicação de calor ou gelo nas regiões sensíveis, evitar movimentos mandibulares extremos tais como bocejar, cantar alto ou mascar chicletes, Outras formas de tratamento incluem ortodontia corretiva (a qual visa a modificação da mordida do paciente), a odontologia restauradora e o ajuste oclusal (desgaste seletivo das superfícies dentárias para “equilibrar “a mordida).
  • Dentre as modalidades reversíveis de tratamento encontram-se compressas quentes, confecção de placas miorrelaxantes e até mesmo calor profundo aplicado com aparelhos de ultrassom ou laser. Outras possibilidades empregadas em terapia são o aprendizado de técnicas de relaxamento (fisioterapia) para se tentar controlar a tensão sobre a musculatura de mastigação, tentar eliminar a dor e espasmo muscular pela aplicação de calor úmido ou o uso por pouco período de medicamentos como relaxantes musculares, analgésicos ou antiinflamatórios, e também eliminar alguns efeitos deletérios causados pelo ranger ou apertamento dos dentes através do uso de placa de mordida. As formas de tratamento conservadora e reversível apresentadas anteriormente são úteis para o alívio da dor e desconforto; porém, em caso de persistência, o paciente deve comunicar ao seu clínico geral. Se as ATMs estão afetadas e as modalidades básicas de tratamento não foram bem sucedidas, poderá ser recomendado alguma forma de tratamento cirúrgico que, obviamente, deve ser considerado apenas por equipe multidisciplinar e com um cirurgião apto a atuar na área da ATM.
  • Diante de problemas de DTM ou bruxismo pode-se proceder à confecção de placa mio-relaxante, acompanhamento e orientações.
  • Solicitação de exames nos casos necessários para esclarecer ao servidor sobre suas queixas. E direcionamento a tratamentos adequados.
  • Encaminhamento a serviços e unidades especializadas facilitando o acesso desse servidor a locais onde possam ter tratamentos especializados.
  • Observar caso o paciente apresente prótese removível se está bem adaptada, tempo de uso, se há lesões na mucosa e se higieniza corretamente.
  • Se o paciente faz uso de medicações, se está sob tratamento psicológico ou psiquiátrico se está sob acompanhamento fonoaudiologico.
  • Moldagem dentária com a posterior confecção da placa miorelaxante ou interolusal- A finalidade é ajudar a diagnosticar melhor os problemas relacionados à oclusão e distúrbios de articulação mandibular, como bruxismos, estalos, zumbidos, deslocamentos, travamentos, tratamento para auxiliar em cefaléias, roncos, tensão da muscular na área de cabeça, pescoço, ombro. melhorando assim a qualidade de vida do paciente.
  • Adaptacões e orientações.
  • Acompanhamento-monitoramento dos casos.


Universo e Amostras

Dados Coletados

Apesar de ainda não ter grande divulgação, já observamos muitos casos onde a atuação da odontologia e o uso da placa tem sido relatado pelos pacientes como de grande importância para alivio das dores, evitando quebra de dentes e restaurações, como também alívio na musculatura da face, melhorando a qualidade do sono e principalmente a qualidade de vida desses servidores. Tanto em homens quanto mulheres. Dentro da Polícia Civil observamos que em todos os cargos são observados problemas de bruxismo, o maior grupo relatado são nos agentes de polícia. Mas todos: delegados, escrivãs, perito papiloscopista, peritos, legistas, auxiliar de perito, auxiliar administrativo, em todos esses grupos observamos casos de bruxismo e DTM. Foram diagnosticados, moldados cerca de 50 pacientes com casos onde se verificava a necessidade de confecção de placa miorelaxante, seja por casos de bruxismo acentuados ou de DTM, vários deles temos avaliação fonoaudiológica com a necessidade de tratamento concomitante com a área citada e muitos outros em tratamento com o departamento de psicologia.


Paciente: D.T.S.
Idade: 82 anos.
Comissário especial aposentado.
Apresenta dentes extremamente desgastados, chegando a nível de dentina. Já realizando o quarto tratamento endodôntico (canal) por conta do bruxismo. Apresenta travamento intenso. Apresenta todos os elementos dentários superiores exceto os terceiros molares. Na arcada inferior apresenta apenas dos elementos: 33 ao 43 (canino inferior direito a canino inferior esquerdo), perda dos elementos a muitos anos e não usa prótese inferior, apresentando rebordo alveolar intensamente reabsorvido. Foi realizada a placa miorelaxante. Deslocamento da ATM a palpação para a direita. Desconhecia o problema do bruxismo até o cirurgião dentista encaminhá-lo por queda constante de restaurações e desgaste excessivo da coroa dos dentes. Não Faz acompanhamento psicológico.
Paciente: E. L. S. F.
Comissário Especial de Polícia ainda em atividade policial.
Regime; expediente, trabalho externo (equipe de rua)
Paciente hemofílico já havia utilizado placa de acrílico,
Bruxismo tão intenso que quebra a placa de acrílico
Refere ficar muito tenso durante o trabalho de rua
E ter piorado após a morte de sua esposa
Arco superior: ausência dos elementos: 13, 12,11,21,22,23
Arco inferior: ausência dos elementos dentários: 36,32,32,41,42,43,
Elementos presentes desgaste dentário tão acentuado que estão sem anatomia definida, sulcos desgastados, bordas incisais fraturadas
Faz acompanhamento fonoaudiológico, tratamento com bandagens.
Faz acompanhamento psicológico
Foi feita moldagem e confecção de placa miorelaxante em silicone.
M. M. S.
Agente de policia
Regime de trabalho: plantão
Estudante de medicina
Ruídos ATM direita, apinhamento superior,
32 anos
Apresenta problemas de ordem emocional, refere sentir: angústia, ansiedade, irritação, medo. Procurou o setor odontológico pois referia: na delegacia terem poucos permanentes de plantão, a delegacia ser em área perigosa, ficava tão tensa durante o plantão que travava todos os dentes de forma tal que ao amanhecer não conseguia abrir a boca tamanha era a tensão emocional.
Foi moldada e confeccionada placa de 2mm em silicone usar durante todo o plantão noturno.
Paciente: J. B. C.
Agente de polícia
Regime de trabalho: expediente administrativo
40 anos
Referia: problemas auditivos (dor de ouvido, zumbido), distúrbios gástricos (gastrite), dor ao mastigar, abrir e ranger e apertar os dentes.
Não relatava problema psíquico mas transparecia vivencia de estresse decorrente do trabalho (metas a cumprir) (segundo parecer da psicóloga). Foi feita moldagem e confecção de placa miorelaxante.
Paciente: A. J. S.
Escrivão
37 anos Paciente relata ter feito cirurgia bariátrica, faz acompanhamento anual com audiometria, problema de ronco, apresenta mastigação unilateral direita, estalos ATM, ausência de alguns elementos dentários, paciente com acompanhamento psicológico, presença de diastema entre os incisivos centrais superiores.
Paciente relata que durante a função policial “ouvidas “e registros de alguns casos mais graves, sente tamanha tensão que trava todos os dentes até sentir dor , ou começa a ranger os dentes involuntariamente.Feita moldagem e confecção de placa miorelaxante,uso noturno e durante o dia no decorrer das “ouvidas” na delegacia.
Paciente: A. A. M. T. N.
Comissário Especial de Polícia ainda em atividade policial.
44 anos
Paciente em tratamento psicológico.
Sentindo dores ao travamento extremamente intenso ao ponto de fraturar o elemento 21 que tinha uma coroa e raiz tratada canal durante esses apertamentos matinais e rangendo os dentes.
Faz uso de medicação controlada
Segundo a psicologia: ansiedade e labilidade emocional, em processo de readaptação, esgotamento emocional no trabalho.
Feita moldagem e confecção de placa miorelaxante em silicone.
Paciente: E. C. A. R. M.
Idade: 53 anos
Comissário Especial de Polícia ainda em atividade policial.
Histórico clinico: Com parecer da fonoaudiologia
Apresenta bruxismo, já usou por 2 anos e deixou de usá-la abandonou, a cerca de 3 anos após fazer implantes e depois disso a antiga placa não adaptou mais, fez a colocação de 3 implantes, apresenta mastigação unilateral direita, estalos e dores na ATM , ausência de segundos e terceiros molares superiores direitos , apresenta gastrite crônica.
Feita moldagem e confecção de placa miorelaxante em silicone.

Conclusão

Nos dias atuais, a presença do cirurgião-dentista se faz necessária e é de fundamental importância no ambiente laboral das diversas classes de trabalhadores com o intuito de atuar favoravelmente sobre a saúde destes, através da identificação de potenciais riscos a ela e, também, pela necessidade de se educar o trabalhador para que ele mesmo seja o mais interessado promotor da saúde na instituição em que atua focando nos seguintes itens: estimular o equilíbrio físico e mental do trabalhador; contribuir para o estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem estar físico e mental dos trabalhadores.
O dentista deve estar atento para que as queixas miálgicas mais simples e para que não evoluam de uma condição aguda para uma condição crônica, pois, como já dito, a efetividade de um tratamento local é reduzida enormemente. A razão para este insucesso do tratamento é devido ao fato de a origem desta condição se tornar controlada pelo sistema nervoso central. Desordens de dor crônica, geralmente, devem ser tratadas por uma equipe multidisciplinar. Em muitos casos o dentista sozinho nao está equipado para tratar estas desordens. É importante, portanto, para o clínico geral, reconhecer desordens de dor crônica e considerar o encaminhamento do paciente para uma equipe adequada de terapeutas, os quais estariam mais aptos para tratar esta condição de dor
O domínio de técnicas de diagnóstico e tratamento da dor orofacial por clínicos gerais tendem a uma redução do sofrimento desses indivíduos, inclusive tornando o tratamento mais acessível, e, portanto, com menor custo financeiro. Além disso, também é indispensável que o clínico geral tenha consciência de quais pacientes devem por ele serem tratados, e quais deveriam efetivamente serem encaminhados a uma equipe multidisciplinar com finalidade de intervir em casos crônicos ou que tendam a uma cronicidade

Referências

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A Prevenção do Absenteísmo no Trabalho – Sinopse da Investigação. Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho. Luxemburgo. 1997; 7-21.
MAZZILLI, L. E. N. Odontologia do Trabalho. 2 ed. São Paulo: Santos; 2007; 47, 67-8, 101-15.
MEDEIROS, U. Fundamentos de Odontologia do Trabalho. São Paulo; Santos; 2011: 1-47, 113-75.
NOGUEIRA, D. P. Odontologia e saúde ocupacional. Rev. Saúde Pública. 1972; 6 (2): 211-23.

1 Mat. 221.291-9 Cirurgiã-dentista- CRO 563208 DIVISÃO DE SAÚDE/UNIASSAP/DIRH/PCPE

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