Retrofit e Estratégias Sustentáveis para Aumentar a Qualidade no Ambiente de Trabalho e Satisfação do Usuário

Isabela Franco Schreiber

Introdução

Observando as alterações nas relações de trabalho e a evolução dos conceitos de qualidade de vida laboral, empresas dos mais variados segmentos estão compreendendo a necessidade de alinhar arquitetura e paisagismo, respeitando as condições do ambiente, de forma a estabelecer uma atmosfera de trabalho agradável e que represente uma imagem corporativa atraente, onde o projeto arquitetônico corporativo deve transmitir uma imagem coerente com a filosofia da organização.
Desta forma buscam oferecer ambientes que proporcionem conforto e bem-estar aos usuários, através das características físicas de cada ambiente, como layout, temperatura, iluminação, ventilação, umidade, vista externa, ergonomia, mobiliário e equipamentos.
Para desenvolver um projeto arquitetônico corporativo, em que forma e função atendam aos objetivos da empresa de modo eficiente, agradável e que promova o bem-estar, é indispensável ser feito um levantamento do organograma da empresa, dos elementos e recursos que estão ou não adequados e das necessidades básicas, além de obter informações dos usuários, fazendo da arquitetura uma ferramenta gerencial, pois oferecer espaços agradáveis estimula o comprometimento do funcionário com a instituição, bem como ambientes de trabalho que satisfaçam as necessidades de seus usuários resultam em aumento na produtividade.
Para aliar questões de sustentabilidade ambiental, social e econômica, com aspectos estéticos, funcionais, qualidade, saúde e segurança, em edificações consolidadas que necessitam alterar seu uso, a técnica que vem ganhando espaço é o retrofit, pois colabora para uma melhora no desempenho e aumenta a vida útil do edifício.
O presente estudo de caso foi realizado em uma edificação de dois pavimentos, localizada no estado do Rio Grande do Sul, que atualmente abriga a sede administrativa da empresa. Ao longo dos anos, a edificação analisada, passou por diversas intervenções e ampliações, deixando de ter um uso misto para exclusivamente comercial, de forma a suprir as necessidades de crescimento da empresa que a ocupava na época, entretanto quando a empresa atual, ocupou o espaço em 2009, sem um prévio estudo, houve uma divisão equivocada dos departamentos, prejudicando a organização da empresa, comprometendo a qualidade do ambiente de trabalho. Originalmente projetada em 1995, os 422m² inicias foram distribuídos para receber a sede de uma empresa no pavimento térreo e a residência do proprietário no segundo andar, a edificação passou por reforma para o acréscimo de mais 112,14m² em 2005. Entre 2007 e 2008 recebeu obras para unificação com uma edificação mais antiga, que era destinada somente à moradia, totalizando os 1064,72m² atuais.
Com base nas expectativas da empresa pela busca da sustentabilidade e melhoria dos ambientes, foram realizados: levantamentos in loco, entrevistas com os usuários e leituras específicas. Percebeu-se a necessidade de realizar uma intervenção arquitetônica completa, desde a fachada até a arquitetura de interiores.
O desenvolvimento do trabalho foi pautado na avaliação de estratégias utilizadas como diretrizes projetuais, a fim de aliar soluções sustentáveis e economicamente viáveis ao projeto e execução de um retrofit. Ao final da obra os níveis de satisfação dos usuários foram quantificados para analisar o impacto das intervenções e se atenderam ao propósito de melhorar a qualidade do ambiente de trabalho.

Metodologia

Para desenvolvimento deste trabalho foi realizado um estudo de caso, em uma edificação comercial que teve seu uso alterado ao longo do tempo e que passou por um retrofit, para melhorar a satisfação dos usuários, nos aspectos relacionados à qualidade do ambiente, conforto térmico, acústico, lumínico, acessibilidade e adequação de layout para aproveitamento do espaço. Para atingir os objetivos propostos, o estudo foi realizado em etapas, e para facilitar o acompanhamento das ações correspondentes a cada uma destas, foi elaborado um diagrama. (Figura 1)

Para avaliação da viabilidade da execução do retrofit foram utilizadas as metodologias descritas por Barrientos e Qualharini (2004), que indicam um roteiro de procedimentos para auxiliar na tomada de decisões. Iniciando pelo pré-diagnóstico, onde a situação inicial da qualidade e do estado de conservação da edificação é analisada, seguido pelo diagnóstico, que para este estudo foi realizado em forma de vistoria, pesquisa documental, aplicação de questionário, entrevista com o proprietário da empresa e medições físicas. A etapa seguinte consistiu na definição do diagnóstico para determinar as diretrizes projetuais e critérios de reaproveitamento de matérias e sistemas e, em seguida, o desenvolvimento do projeto arquitetônico definitivo e projetos complementares específicos para então iniciar a execução das obras.
Para complementar as variadas formas de análise foi realizada uma Avaliação Pós Ocupação Investigativa, estipulada pela adoção de múltiplos métodos, de natureza qualitativa e quantitativa, mediante técnicas distintas, conforme recomenda Ornstein e Roméro (1992).
Como primeira etapa foi realizado um levantamento da memória do projeto e da construção, realizado junto ao proprietário do imóvel, contemplando projetos existentes e fotografias de diversas épocas pelas quais foi possível o entendimento sobre o histórico da edificação, suas intervenções e ampliações, visitas ao prédio para vistoria técnica dos aspectos construtivos e funcionais (walkthrough com check-list), cadastro e registro atualizado das alterações dos ambientes construídos as built através de levantamento fotográfico e de informações referentes à situação atual, alterações de projeto não documentadas, entrevista com o proprietário e observação do uso dos espaços, movimentação diária de quem circula no prédio e mapeamento das manifestações patológicas para buscar profissionais capacitados na solução dos problemas identificados.
Na segunda etapa desenvolveu-se o estudo de referenciais teóricos abrangendo pesquisas em livros, periódicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos e revistas técnicas, catálogos de fabricantes, informações publicadas na Internet e normas técnicas, relacionados aos temas abordados: retrofit, arquitetura corporativa, sustentabilidade em edifícios, qualidade em ambientes de trabalho, Avaliação Pós Ocupação (APO), neurociência aplicada à arquitetura, e satisfação do usuário. Com base nas referências teóricas, foi elaborado e aplicado um questionário, considerado por Ornstein e Roméro (1992) um dos métodos mais empregados em APO, antes do início das obras, e a análise dos dados obtidos foram fundamentais para pautar as decisões e especificações de projeto. Além disso, foi aplicado outro questionário de APO, ao final da intervenção, para que fosse possível mensurar qual o impacto das intervenções na qualidade do ambiente. A pesquisa buscou analisar a satisfação do ocupante com conforto térmico, qualidade do ar, iluminação e acústica, não incluindo limpeza e manutenção do edifício nem a satisfação com o trabalho que cada funcionário realiza. Os dados coletados pela pesquisa podem ser divididos em variáveis subjetivas e objetivas, sendo que as variáveis objetivas incluem gênero, faixa etária, formação, setor que trabalha, horas de trabalho por dia, e as variáveis subjetivas abrangem os tipos de controle sobre ambiente de espaço de trabalho, tais como iluminação e ventilação. Nas perguntas que se referem aos níveis de satisfações dos usuários, foram apresentadas alternativas fixas. Realizou-se também uma busca por referências projetuais, com ênfase em edificações para uso comercial e coorporativo sustentáveis.
Após realizadas as visitas e levantamentos sobre a edificações, a coleta de dados do questionário e a entrevista com o proprietário, iniciou-se a terceira etapa, onde realizou-se uma análise dos itens relacionados aos check-lists: LEED BD+C para grandes reformas e LEED ID+C para interiores comercias, que pudessem ser adotados como estratégias para tornar o edifício mais sustentável, reduzindo demanda energética e do consumo de água. Ainda, foram verificadas alternativas, que atendessem às necessidades dos usuários, sem representar grandes alterações estruturais e avaliados os condicionantes legais, normativos e ambientais do estado e município em questão.
Tendo como parâmetro as definições da etapa anterior, na quarta etapa foi realizado o projeto arquitetônico executivo, e a compatibilização entre os demais projetos complementares, como climatização, elétrica, lógica, luminotécnico, forro, divisórias e design de interiores. Desenvolver um projeto de retrofit implica em limitações criativas, pois parte-se de um trabalho de outro profissional. Desta forma, foi solicitada a autorização tanto do arquiteto responsável pelo projeto original quanto ao profissional responsável pela ampliação realizada em 2008 para realizar as intervenções.
O retrofit foi realizado durante 08 meses, entre maio de 2015 e janeiro de 2016, com todos os usuários trabalhando no prédio. Durante este período foi realizada a quinta etapa, o acompanhamento da obra para verificar se as definições estavam sendo executadas conforme projeto.
Ao término da obra, no mês de maio de 2016, realizou-se a sexta e última etapa, quando foi aplicado um novo questionário de APO aos funcionários, para ser comparado com os resultados do primeiro questionário, e desta forma possibilitar a verificação dos índices de satisfação dos usuários antes e depois do retrofit. A comparação dos resultados obtidos são apresentados nos resultados da pesquisa.

Arquitetura Corporativa: Sustentabilidade e Qualidade em Ambientes de Trabalho

O projeto de arquitetura corporativa deve representar a imagem da empresa, como símbolo de tradição, força, tecnologia, modernidade e/ou capacidade administrativa e organizacional, sendo essencial que o ambiente de trabalho proporcione bem-estar e funcionalidade aos usuários. O desenvolvimento de projetos coorporativos vai muito além da elaboração da estética, decoração e layouts dos ambientes de trabalho, tendo como objetivo alcançar resultados financeiros e operacionais de uma empresa. Seu desafio envolve a criação de ambientes funcionais, adaptados às necessidades de agilidade nos processos, comunicação eficaz e alta produtividade, integrando climatização dos ambientes, iluminação apropriada, acústica adequada, ergonomia, infraestrutura para modernos sistemas de cabeamento, elétrica e equipamentos, além de atender as legislações trabalhistas, normas regulamentadoras, prevenção contra incêndio, sinalização e acessibilidade.
As mudanças políticas e econômicas que ocorreram ao longo dos séculos, acarretaram transformações nas relações interpessoais, nas necessidades dos indivíduos, na maneira de trabalhar e na apropriação do local de trabalho. A competitividade do mercado, aliada ao advento da tecnologia, tornaram os modelos organizacionais mais flexíveis, sem obedecer aos padrões, mas que atendessem as exigências do mercado, focando no atendimento ao cliente. A redução no número de funcionários e o aumento da jornada diária de trabalho teve como consequência o aparecimento de doenças ocupacionais, como LER (Lesões por Esforço Repetitivo) e o estresse. Para diminuir este impacto negativo as empresas passaram a oferecer espaços de conforto e lazer. (BATISTA, 2015; GURGEL, 2014).
A capacidade intelectual dos indivíduos tornou-se o maior valor da empresa, e atualmente são permitidos espaços de trabalhos mais informais, despojados e lúdicos, com ênfase no trabalho em equipe, o que proporciona resultados excelentes tanto em produtividade, quanto em qualidade de vida dos usuários, trabalhar nestes ambientes passou a ser objeto de desejo das pessoas que estão ingressando no mercado de trabalho. (BATISTA, 2015; GURGEL, 2014; SAVAL, 2015).
A qualidade de um lugar está intrinsecamente ligada a um sentimento de afeição ou repulsa das pessoas por ele e está diretamente relacionado com a cultura, a memória e a imaginação. A percepção da qualidade do ambiente tem sido reconhecida como fundamental na saúde humana, uma vez comprovado que os ambientes de má qualidade física e espacial levam à insatisfação de usuários causando instabilidade emocional como dificuldade de concentração, tensão ou outras manifestações psicológicas. (RHEINGANTZ; ALCANTARA; DEL RIO, 2005)
Quando mal projetados, os ambientes podem gerar insalubridade sobre os aspectos físicos, psicológicos e sociais do trabalho, afetando a eficiência de todo o processo produtivo. (VILLAROUCO; ANDRETO, 2008).
O ambiente físico precisa atender às necessidades dos usuários, tanto em termos funcionais (físico/cognitivos) quanto formais (psicológicos). Existe um impacto positivo na realização das atividades, sendo importante avaliar quais os fatores que levam à obtenção de uma qualidade ambiental satisfatória. Estudos mostram que há um aumento no desempenho produtivo quando os sistemas de iluminação e climatização são controlados pelos próprios usuários e é comprovado que a temperatura excessiva em ambientes de trabalho ocasiona cansaço e sonolência, reduzindo a velocidade de raciocínio e aumentando a tendência a falhas. São muitas as variáveis presentes no ambiente que podem modificar a satisfação e o desempenho no trabalho, como layout, temperatura, iluminação, ventilação, umidade, vista externa, ergonomia, mobiliário e equipamentos. (SILVA, 2001).
A percepção ambiental associa os aspectos cognitivos dos usuários, e representam o fator mais difícil de identificar, pois os aspectos envolvidos nessa adequação, devem partir do sentimento do usuário durante o uso do ambiente de trabalho e sua avaliação não depende de índices pré-estabelecidos, ou legislações. Para os fatores de medidas antropométricas, a proposta de mobiliário deve estar de acordo com os padrões do usuário, não sendo suficiente a adoção de valores referentes ao homem médio. Para adequação de materiais e revestimento, como cores e acabamentos as diretrizes variam em função do uso do ambiente e da atividade desenvolvida.
Aliar as variáveis que proporcionem o bem-estar ao ambiente de trabalho a especificações sustentáveis possibilita não só o aumento nos índices de satisfação dos usuários, como também permite a transformação de um projeto arquitetônico a favor da sustentabilidade.
As ferramentas certificadoras de sustentabilidade têm como objetivo estabelecer metas relacionadas a condições locais e usos específicos de uma edificação. Desenvolvido no início da década de 1990, pelo Conselho Norte Americano de Construção Verde (United States Green Building Council - USGBC) entidade sem fins lucrativos, formada por mais de 12.000 organizações da indústria da construção, o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), se tornou dos mais conhecidos e utilizados selos ambientais devido à simplicidade apresentada em sua metodologia de aplicação, através do check-list de verificação.
O principal objetivo da certificação é promover práticas sustentáveis no mercado da construção civil através da implementação de critérios de desempenho e ferramentas de avaliação que possam ser compreendidas e aplicadas universalmente. Embora seja uma certificação norte-americana, o LEED incluiu critérios regionais que permitem a adaptação da ferramenta em lugares de climas e localizações diferentes, difundindo ainda mais sua aplicação. No Brasil, esta Certificação vem sendo adequada a realidade nacional, através do Green Building Council Brasil (GBC Brasil), criado em 2007, e que vêm interpretado as ferramentas disponíveis e adaptando-as ao mercado nacional.
Com variações e adaptações em função dos tipos de uso, os critérios englobam alguns princípios básicos como a localização do empreendimento, e suas relações e impactos com o espaço onde está inserido; a redução do consumo energético, utilizando fontes renováveis e/ou alternativas, além da implantação de sistemas mais eficientes; o consumo consciente da água e tratamento e/ou reuso de águas servidas; o emprego de produtos com baixo impacto ambiental, gestão resíduos e redução e/ou reutilização de materiais durante construção e operação de edificação; a qualidade do ambiente interno no que diz respeito ao uso de iluminação e ventilação natural e redução da aplicação de materiais e revestimentos emitam compostos voláteis no ar interior; e por fim, a operação e manutenção através do uso de materiais e sistemas mais eficientes com baixos impactos em seus ciclos de vida, e que tenham uma boa relação custo benefício. (MUÑOZ BARROS, 2012).
Estudo demonstram algumas dificuldades apontadas por empreendedores para a implementação da certificação LEED, como o alto custo da certificação, documentação e projetos, além do prazo para recuperação do investimento aplicado, assim como a necessidade de uma simulação energética complexa e onerosa, que é requerida para a certificação. (MUÑOZ BARROS, 2012).
O resultado de uma edificação sustentável é a união entre conceitos arquitetônicos, técnicas construtivas, conforto ambiental e a esperada eficiência energética, tanto em uma edificação nova, quanto em um retrofit. Entretanto, o desempenho ambiental e energético do edifício não pode ser garantido nas etapas de projeto, pois, mesmo que sejam realizadas simulações das condições ambientais, o gerenciamento dos sistemas do edifício, e as necessidades e comportamentos dos usuários, serão responsáveis pela performance final do edifício.
Alinhados com este pensamento, há um número crescente de pesquisas na linha de APO que buscam promover a melhoria de qualidade de vida, produzir conhecimento sistematizado sobre o ambiente e as relações ambiente-comportamento.

Retrofit

O termo retrofit começou a ser utilizado em 1990, pela indústria aeronáutica, para referir-se à atualização de aeronaves, adaptando as mesmas aos novos e modernos equipamentos disponíveis no mercado. Ao longo dos anos, o conceito de retrofit passou a ser utilizado também na construção civil, para denominar o processo de atualização tecnológica e modernização, a fim de prolongar a vida útil, o conforto, a funcionalidade e o desempenho das edificações. (BARRIENTOS; QUALHARINI, 2004).
Dentre as principais diferenças entre o retrofit e a reforma tradicional, podem ser citadas a utilização de tecnologia para substituição de componentes, produtos ou materiais que tenham se tornado inadequados ou obsoletos com o passar do tempo, ou em função da mudança de uso, e o emprego de conceitos de sustentabilidade, na uma vez que diminui o consumo de recursos naturais e energéticos, preserva os elementos que caracterizam a edificação ao invés de simplesmente descartá-los, gerando menos resíduo e respeitando as próximas gerações.
O objetivo do retrofit é preservar o que está em bom estado na construção existente, respeitando seus valores estéticos e históricos originais, sendo possível envolver a modernização e readequação de instalações de água, esgoto, energia, climatização, gás e outros, além de solucionar danos físicos, manifestações patológicas e problemas funcionais, adaptar o imóvel para acessibilidade universal, adequar a edificação às demais normas e legislações vigentes, adaptação o prédio para um novo uso e consequentemente a valorização imobiliária da edificação. Além disso, o retrofit deve contribuir para a educação ambiental dos usuários e, sempre que possível, permitir flexibilidade e adaptabilidade arquitetônica do edifício para futuras reformas, ampliações e alterações de layout, facilitando mudanças com o mínimo custo de materiais e energias.

Avaliação Pós Ocupação e Satisfação do Usuário

A Avaliação Pós-Ocupação (APO) é uma metodologia consagrada, que pode ser aplicado em edificações escolares, prédios de escritório, espaços institucionais, habitações de interesse social, espaços públicos, entre outros, e que tem como finalidade, após uma minuciosa análise, possibilitar e quantificar o desempenho da edificação, bem como a satisfação dos seus usuários e as suas necessidades, a fim de promover as melhorias nas edificações e na qualidade de vida dos seus usuários, além de garantir maior produtividade e segurança nos ambientes avaliados. Possibilita, ainda, a recomendações para projetos similares, sendo uma etapa importante no processo do desenvolvimento de novos projetos. (VOORDT; WEGEN 2013).
Derivados dos trabalhos ligados às Ciências Sociais, Tecnologia e Construção Civil, os métodos de APO vêm sendo adotados para aferir em que medida o desempenho dos ambientes influencia o comportamento humano e vice-versa. Desde a década de 1960, países desenvolvidos, como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Japão utilizam este sistema como feedback do processo de projeto, para mensurar o quanto as edificações atendem as funções para as quais foram projetadas, e os resultados são analisados não somente sob o ponto de vista de especialistas e/ou de uma equipe multidisciplinar, mas principalmente com base nos usuários.
Existem diferentes níveis de APO, e todos são desenvolvidos em três etapas: etapa de idealização, que compreende o levantamento das necessidades, recursos e trabalhos anteriormente desenvolvidos para a obter relatórios, bibliografia e pesquisas recentes sobre o tema; etapa de desenvolvimento, que envolve a coleta, análise e tabulação de dados, além de novas descobertas que abastecem a etapa anterior; e finalmente a etapa prática que inclui a produção de relatórios, exercícios de recomendações e plano de ação estruturado. Todos os métodos supracitados podem ser combinados em função de cada contexto e tipologia em que for aplicada a APO, porém necessita sempre envolver o ambiente, a instituição e os ocupantes.

Resultados

Os levantamentos realizados in loco, ocorreram durante os meses de abril e maio de 2015, em diferentes horários e dias da semana, para auxiliar na compreensão do programa de necessidades, sugerido pelo proprietário. Conforme indicação de Ornstein e Romero (1992), foram observados o uso e a ocupação dos ambientes, bem como foi realizada a conferência de medidas para confecção do as build e os levantamentos das manifestações patológicas.
Nas visitas realizadas, foi possível observar que o prédio apresentava manifestações patológicas, principalmente devido às infiltrações pelo telhado, ralos, rejuntes e descolamentos de revestimento cerâmico nos terraços, ausência de capa muros na divisa, pingadeiras instaladas com caimento invertido e também em decorrência de instalações mal executadas. Foram observados, também quadros elétricos inadequados e fora de norma, eletrocalhas, perfilados e eletrodutos com excesso de cabos, além de iluminação precária em todas as áreas, mas especialmente nos espaços de trabalho e salas de reuniões, torneiras e caixa acoplada dos vasos sanitários com vazamento ou em mau funcionamento e principalmente uma má distribuição do layout, tendo sanitários desativados, áreas desocupadas e/ou subaproveitadas, que não estavam sendo utilizadas para o fim que foram projetadas além de poucas janelas com vista para rua.
Os usuários foram convidados a responder um questionário por e-mail, de forma anônima, para que houvesse uma amostragem representativa do todo. A aplicação do primeiro questionário foi realizada entre os dias 30 de junho e 03 de julho de 2015, e 41 pessoas responderam ao questionário, permitindo trabalhar com as informações de 2/3 dos 61 ocupantes do prédio.
As variáveis subjetivas, foram avaliadas utilizando uma escala de valores, limitadas entre “muito insatisfeito" e "muito satisfeito”. Questionou-se a satisfação do usuário quanto a aspectos que envolvem desde o número de banheiros disponíveis até materiais e acabamentos. Foi disponibilizado um espaço para preenchimento opcional, onde os funcionários poderiam explicar os motivos de algumas das suas respostas.
Com a análise dos resultados da pesquisa foi possível perceber que 17 homens e 24 mulheres responderam ao questionário, proporção equivalente ao total de cada gênero que trabalha no prédio. O tempo de permanência diária no prédio também foi medido, sendo que a maior parte dos funcionários, 27 pessoas trabalham em média de 8 à 9 horas por dia, seguidos por 8 funcionários que trabalham 10 horas por dia, enquanto 5 disseram trabalhar 11 horas por dia e 1 pessoa trabalhar 12 horas por dia dentro da edificação.
As demais perguntas, que dizem respeito à preferência quanto a ventilação, a iluminação e os níveis de interação entre usuários, foram elaboradas no sistema de resposta fixa. Quando perguntados sobre qual dos sistemas de ventilação eles preferiam a maioria, 36 usuários, disseram que a escolha varia conforme o momento, 3 disseram preferir ar condicionado e 2 preferem ventilação natural. Nesta mesma pergunta foi dada a possibilidade de justificativa, onde foi possível observar, que as vantagens da climatização por ar condicionado são fundamentalmente a redução do calor em dias de verão, além de ter sido considerada como uma vantagem o fato de que o barulho do ar condicionado diminui a percepção dos ruídos externos, entretanto a desvantagem apontada primordialmente foi o consumo de energia, a falta de troca de ar com o exterior e o cheiro que exala ao atingir baixas temperaturas.
Sobre a preferência dos usuários quanto à iluminação, a maioria, 29, avaliam que esta decisão depende do momento. Os demais têm opiniões divididas, 7 preferem iluminação natural, e 5 que optam pela iluminação feita por lâmpadas. Nesta pergunta foi dada a possibilidade de justificativa, sendo possível observar que as vantagens da iluminação natural estão na interação com o ambiente externo, e a possibilidade de ver o dia passar, além de ter noção de tempo de acordo com a iluminação da rua.
Existem locais propícios para a convivência dos funcionários, como copa, deck, ambientes de espera e terraços, e as respostas indicam que todos utilizam os espaços, porém com diferentes níveis de apropriação do lugar, pois 14 disseram utilizar muito e 27 usam pouco.
Através das informações analisadas, com base nas experiências dos funcionários da empresa, foram realizadas as tabulações dos resultados, conforme orienta Ornstein e Roméro (1992), e diagnosticados como aspectos negativos: a quantidade de sanitários, os ruídos internos que atrapalham a concentração, as luzes estarem sempre acessas e a falta de janelas para a rua.
Como aspectos positivos foram identificados: os móveis e dimensão das mesas, assim como acabamentos de pisos, divisórias e cores dos ambientes. Os ruídos externos atrapalham pouco na concentração, e a acessibilidade foi considerada como um ponto positivo, mesmo que o prédio não possua nenhuma rampa, e os prédios não sejam unificados na parte superior. Quanto às áreas de convivência, a maioria dos usuários estava satisfeita, mas tanto nas visitas quanto nas respostas se observou que estas áreas são pouco utilizadas.
Com base nos resultados das etapas anteriores, análise da edificação, e como resultado da primeira APO, foram definidas as diretrizes projetuais que atendessem as necessidades dos usuários, aos condicionantes legais e aos critérios da certificação LEED BD+C para grandes reformas e LEED ID+C para interiores comercias, a fim de melhorar a qualidade do ambiente e para que a edificação atendesse de forma sustentável o uso atual, após a realização do retrofit. Foram utilizadas como referências para as definições deste projeto 4 (quatro) critérios da certificação LEED. São elas: Eficiência Hídrica, Energia e Atmosfera, Matérias e Recursos e Qualidade do Ambiente Interno.
Tendo em vista que a empresa continuaria em pleno funcionamento, e os usuários permaneceriam no prédio, durante a execução das intervenções, foram definidas estratégias que minimizassem os impactos no ambiente de trabalho, optando pela utilização de estrutura metálica e placa cimentícia para fechamentos externos, gesso acartonado e vidro temperado para divisórias internas, e o envelopamento da fachada em ACM, buscando acelerar a execução, evitar sujeira e desperdício de materiais.
Além disso, foram propostas diretrizes para aumentar a satisfação dos usuários, incluindo a utilização dos sanitários desativados, e um espaço de convivência amplo, iluminado e confortável, com banquetas, mesas baixas, sofás e televisores para que os usuários possam usufruir tanto no horário das refeições quanto ao longo do dia, e onde fosse possível reunir toda a equipe em datas importantes.
Para resolver questões de iluminação e ventilação natural, bem como a relação das vistas internas e para a rua, foram propostos aumentos nos vãos das janelas que tinham peitoril alto, demolição de alvenarias para ampliar os ambientes e instalação de divisórias de vidro, com diferentes graus de translucides para não criar barreiras visuais. Na iluminação geral foi realizado cálculo luminotécnico e redistribuição dos circuitos elétricos. Para o conforto térmico, foram dimensionados aparelhos de ar condicionado, e realizada uma nova distribuição entre aparelhos novos e existentes, para que houvesse maior autonomia por parte dos usuários. Nesta etapa também foi definida a troca de todos os revestimentos de piso internos, por piso vinílico tipo cimento queimado, com exceção dos banheiros que receberam porcelanato no piso e pintura epóxi nas paredes.
Os estudos de fachada foram feitos em 3D, e o projeto da fachada, contemplou elementos que solucionassem os problemas de insolação, como brises e vegetação. Durante o desenvolvimento do projeto optou-se pelo uso de brise-soleil, pois controlam a entrada de radiação solar nos ambientes, com a finalidade de proteger a edificação contra a incidência direta dos raios solares, redirecionando-os e redistribuindo-os pelo ambiente. O dimensionamento e a escolha do modelo de brises foi feito através da análise da carta solar, que define o mascaramento - ângulo de sombreamento proporcionado pelo protetor solar, conforme a necessidade de desempenho térmico e luminoso da abertura. (LIMA; BITTENCOURT, 2012).
Durante os 8 meses em que ocorreram o retrofit foi realizado o acompanhamento da obra para verificar se as definições estavam sendo executadas conforme projeto e solucionar possíveis dúvidas no decorrer da mesma.
As obras foram finalizadas em maio de 2016, quando foi aplicado aos usuários um novo questionário de APO, idêntico ao primeiro, e as respostas foram comparadas com as anteriores, possibilitando mensurar se as estratégias adotadas tiveram impacto na qualidade do ambiente e na satisfação dos usuários, antes e depois do retrofit. O comparativo foi estabelecido em forma de percentual pois o primeiro questionário, foi respondido por 41 usuários, enquanto o segundo questionário foi respondido por todos os 61 usuários que trabalham no prédio.
A após as intervenções, como a ampliação dos vãos das janelas, cálculo luminotécnico e reposicionamento dos setores, as perguntas sobre iluminação foram refeitas e houve um aumento nos níveis de satisfação, como era esperado, pois segundo Kovalechen (2012) a luz interfere no humor e na produtividade dos funcionários de uma empresa.
Uma das maiores queixas apresentadas pelos usuários no primeiro questionário foi em relação ao número de sanitários disponíveis, que antes eram de 3 femininos (totalizando 5 vasos e 5 cubas) e 3 masculinos (totalizando 4 mictórios, 4 vasos e 6 cubas). Com o acréscimo de mais um banheiro no térreo, a liberação para utilizar os banheiros inativos do segundo pavimento e devido as obras e ampliações nos banheiros existentes, totalizando 10 vasos e 9 cubas para as mulheres e 7 mictórios, 7 vasos e 11 cubas para os homens, a média de satisfação mudou de 37% para 91%.
Embora 61% dos usuários estivessem satisfeitos com acabamentos de pisos, divisória e cores dos ambientes, estes elementos causavam indiferença 29% dos usuários. Com todas as alterações do retrofit, desde a uniformização dos pisos, pinturas em tons neutros e claros, forro em gesso, iluminação adequada, e divisórias em vidro que não criam barreiras visuais, o percentual de indiferença diminuiu para 5%, e o de satisfação aumentou para 87%.
A organização interna do ambiente, incluído disposição do mobiliário e espaço disponível em cada estação de trabalho também foram avaliadas pelos usuários, sendo que a satisfação passou de 54% para 85% no que se refere a organização interna e de 61% para 79% em relação ao tamanho das mesas de trabalho. Estes dados comprovam que, conforme Batista (2015), a organização do espaço coletivo influencia na organização do espaço individual, pois houve um aumento de 18% dos usuários satisfeitos sendo que a grande maioria permaneceu utilizando as mesmas mesas e cadeiras.
A interferência dos ruídos internos e externos era insatisfatória para 56% e 22% dos usuários, respectivamente. Ao término da obra estes valores passaram para 18% e 5%, comprovando que o posicionamento correto das estações de trabalho na distribuição do layout causa menos interferência de ruídos entre os usuários, e que o fato de ter mais aberturas para a rua não necessariamente causa o aumento de ruídos internos. (BATISTA, 2015).
Em uma análise geral, foi possível perceber que na grande maioria dos questionamentos houve um aumento no percentual de satisfação dos usuários, tanto nos aspectos relacionados ao conforto, como iluminação, ventilação, interferência de ruídos internos e externos, quanto nos relacionados a organização e acabamentos do ambiente.

Considerações Finais

Cabe ao arquiteto interpretar os desejos do cliente, para projetar um espaço que promova a sustentabilidade e o bem-estar dos usuários, seja em projetos de obra nova ou retrofit. Um projeto desenvolvido e elaborado para atender as demandas específicas da empresa, possibilita adequar a edificação às evoluções da tecnologia, internet, cabeamento, iluminação, além de permitir que sejam aplicados conceitos de sustentabilidade, como eficiência hídrica e energética, que promovem a redução de consumo dos recursos naturais e economia à longo prazo.
Ambientes confortáveis, agradáveis e adequados demostram preocupação com os usuários e geram comprometimento, credibilidade e confiança. Quando uma empresa necessita se posicionar e passa por mudanças internas é importante também alterar a fachada, o que possibilita transmitir aos clientes, fornecedores e funcionários os interesses e valores da empresa, não só através de seus espaços internos e como também externos.
Com este trabalho foi possível perceber que com a aplicação de estratégias sustentáveis em um retrofit é viável qualificar o ambiente interno para oferecer bem-estar aos usuários, gerando economia e preservado o meio-ambiente, aliando estética e funcionalidade. A função do arquiteto é projetar de maneira a criar espaços convidativos, funcionais e aconchegantes, mas a postura e a política interna da empresa devem estar claras e alinhadas para que os usuários possam fazer uso destes locais.

Referências

BARRIENTOS, Maria Izabel G. G.; QUALHARINI, Eduardo. L. Retrofit de Construções: Metodologia de avaliação. In: I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL - ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 10. 2004, São Paulo. Anais... São Paulo: 2004
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GURGEL, Miriam. Projetando Espaços: Guia de arquitetura de interiores para áreas comerciais. 5. ed. São Paulo: Senac. 2014.
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Isabela Franco Schreiber - mestre em arquitetura e urbanismo/Unisinos e professora do curso de arquitetura/Uniftec.

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