Simpósio: Saúde Mental na Pandemia

Trabalho 1
Solidão e Sofrimento Psicológico de Adultos Brasileiros na Pandemia de COVID-19


Bianca Gonzalez Martins
Lucas Arrais de Campos
Bianca Núbia Souza Silva
Luana Alves Guimarães
João Marôco
Juliana Alvares Duarte Bonini Campos


Resumo

A pandemia de COVID-19 foi marcada por perdas relacionadas à rotina, ao contato social e à morte. Essas perdas e o isolamento social podem ter contribuído para a experiência de sentimentos de solidão, que representam uma frustração de expectativas entre os relacionamentos interpessoais reais e aqueles que o indivíduo gostaria de manter. A solidão tem sido associada ao sofrimento, o que pode ser prejudicial à manutenção do bem-estar psíquico do indivíduo. Além disso, características demográficas também podem ser relevantes na investigação do sofrimento psicológico pela possibilidade de rastrear grupos suscetíveis à manifestação dos sintomas. Considerando esses aspectos, o presente estudo buscou investigar se o sentimento de solidão e características demográficas impactavam o sofrimento psicológico de adultos brasileiros durante o ano de 2021, na pandemia de COVID-19. Trata de estudo transversal. Os dados foram coletados em dois momentos de 2021 (1: maio-junho; 2: novembro-dezembro). Informações como sexo, idade, adesão ao isolamento social e insatisfação com o contato social foram levantadas. A solidão foi investigada pela Three-Item Loneliness Scale (UCLA-3) e o sofrimento psicológico a partir da Escala de Impacto do Evento Revisada (IES-R) considerando três fatores (pensamentos intrusivos, hiperestimulação e evitação). Elaborou-se um modelo estrutural para cada momento de coleta de dados. Esses modelos foram testados em duas etapas (1. ajustamento: Comparative Fit Index – CFI; Tucker-Lewis Index – TLI; Root Mean Square Error of Approximation – RMSEA e 2. trajetórias β padronizadas: teste z, α=5%). Participaram 12.367 adultos (maio-junho n=7.963; média de idade=38,5 anos; 67,8% mulheres; novembro-dezembro n=4.407; idade=39,9 anos; 68,5% mulheres). Os modelos apresentaram adequado ajustamento aos dados (CFI=0,96-0,97; TLI=0,96-0,98; RMSEA=0,05-0,06). Os sentimentos de solidão estiveram associados (p<0,001) à evitação (β=0,35), intrusão (β=0,48) e hiperestimulação (β=0,53). O fato de ser mulher (βsexo=0,05-0,07), jovem (βidade=-0,17- -0,11), estar em isolamento social (βisol=0,02-0,05) e estar insatisfeito com o contato social (βinsat=0,10-0,15) aumentou a probabilidade do indivíduo vivenciar a solidão e desenvolver sofrimento psicológico. Conclui-se que as características demográficas e a solidão exerceram impacto sobre os componentes do sofrimento psicológico, o que torna sua avaliação relevante no âmbito da saúde mental, devendo ser consideradas para elaboração e direcionamento de protocolos de saúde. Financiamento: CAPES – Código de financiamento 001; CNPQ processo 303118/2021-0; FAPESP Processos 2019/19590-9; 2020/08239-6 e 2021/03775-0.

Referências

CAIUBY, A. V. S.; LACERDA, S. S.; QUINTANA, M. I.; TORII, T. S. et al. Adaptação transcultural da versão brasileira da Escala do Impacto do Evento—Revisada (IES-R). Cadernos de Saúde Pública, 28, p. 597-603, 2012.
KLINE, R. B. Principles and Practice of Structural Equation Modeling. 4 ed. The Guilford Press, 2016. Methodology in the Social Sciences.
KUZNIER, T. P.; OLIVEIRA, F.; MATA, L. R. F.; CHIANCA, T. C. M. Tradução e adaptação transcultural da UCLA Loneliness Scale – (version 3) para idosos no Brasil. Revista Mineira de Enfermagem, 20, p. e950, 2016.
PEPLAU, L. A.; PERLMAN, D. Perspectives on loneliness. In: PEPLAU, L. A. e PERLMAN, D. (Ed.). Loneliness: a sourcebook of current theory, research and therapy. New York: Wiley, 1982. p. 1-8.

Trabalho 2
Sintomas de Depressão, Ansiedade e Estresse em dentistas Brasileiros no Contexto da Pandemia de COVID-19


Bianca Núbia Souza Silva
Lucas Arrais de Campos
Bianca Gonzalez Martins
Luana Alves Guimarães
João Marôco
Juliana Alvares Duarte Bonini Campos


Resumo

Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde decretou pandemia de COVID-19 e devido ao aumento do número de casos e óbitos no final daquele mês, o Brasil declarou quarentena. A interrupção das atividades provocou mudanças drásticas na rotina dos profissionais e necessidade de rápida adaptação exigindo recursos psíquicos adicionais com impacto na saúde mental (BROOKS; WEBSTER; SMITH; WOODLAND et al., 2020; CAMPOS; CAMPOS; BUENO; MARTINS, 2021). O estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de depressão, ansiedade e estresse em dentistas brasileiros e identificar as principais preocupações apresentadas por profissionais acometidos e não-acometidos por sintomas frente ao contexto de pandemia. Trata de estudo transversal. Foram realizadas 2 coletas de dados em 2020 (Etapa 1: maio-junho Etapa 2: novembro-dezembro). Utilizou-se a escala de Depressão Ansiedade e Estresse (DASS-21) e uma questão aberta referente às 3 principais preocupações durante a pandemia. As prevalências de sintomas afetivos foram estimadas por intervalo de confiança (IC95%). Conduziu-se análise de similitude para identificação da conexidade textual entre os relatos das preocupações. Participaram 517 dentistas (Etapas: 1: n=341; 2: n=177). A prevalência de dentistas com pelo menos um sintoma foi maior na Etapa 2 (74,6% [IC95%: 72,7-76,5]) em relação à Etapa 1 (67,4% [IC95%: 65,3-69,5]). Alta prevalência de depressão (D), ansiedade (A) e estresse (E) foi observada nos dentistas tanto na Etapa 1 (D: 57,2% [IC95%: 55,0-59,4]; A: 43,1% [IC95%: 34,4-51,8]; E: 49,9% [IC95%: 47,7-52,1]), como na Etapa 2 (D: 53,7%[IC95%: 51,5-55,9]; A: 48,6% [IC95%: 39,8-57,4]; E: 57,6% [IC95%: 55,4-59,8]). Os dentistas que apresentavam sintomas relataram 2 núcleos centrais de preocupações ‘saúde’ e ‘covid’ e enquanto os que não apresentaram esses núcleos foram ‘saúde’ e família’. Houve alta prevalência de sintomas afetivos negativos frente à pandemia entre os dentistas nas duas etapas do estudo o que estimula a necessidade de apoio dos sistemas de saúde para que adotem medidas de atenção à saúde mental para proteger o bem-estar psicológico desses profissionais. Financiamento: CAPES - Código de Financiamento 001, FAPESP: 2019/19590-9, 2020/08239-6 e 2021/03775-0, 2021/05228-6; CNPq 303118/2021-0

Referências

BROOKS, S. K.; WEBSTER, R. K.; SMITH, L. E.; WOODLAND, L. et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, 395, n. 10227, p. 912-920, Mar 14 2020.
CAMPOS, J.; CAMPOS, L. A.; BUENO, J. L.; MARTINS, B. G. Emotions and mood swings of pharmacy students in the context of the coronavirus disease of 2019 pandemic. Curr Pharm Teach Learn, 13, n. 6, p. 635-642, Jun 2021.

Trabalho 3
Sintomas de Depressão, Ansiedade e Estresse Durante a Pandemia em Professores e Estudantes


Bianca Núbia Souza Silva
Lucas Arrais de Campos
Maria Antonia Ramos de Azevedo
Bianca Gonzalez Martins
João Marôco/Juliana Alvares Duarte Bonini Campos


Resumo

A pandemia da COVID-19 trouxe a necessidade de aprendermos algumas lições acerca da ação do homem no mundo principalmente quando esta é desprovida de humanidade e cuidado. Nesta direção, a quarentena imposta pela crise sanitária desvelou questões sociais, econômicas, políticas, ambientais, físicas e emocionais sem precedentes e provocou alterações em diversas dimensões da vida que precisaram se reconfigurar. Entre os setores fortemente impactados pela pandemia encontra-se o sistema educacional que, para que pudesse continuar, precisou se reorganizar rapidamente com a implantação do sistema remoto de ensino emergencial. O estudo teve como objetivo estimar a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse e as preocupações de estudantes e professores em diferentes momentos da pandemia de covid-19. Trata de estudo transversal com levantamento de dados online. A coleta de dados foi realizada de 6 em 6 meses em três momentos desde o início da pandemia. Utilizou-se as escalas de Depressão Ansiedade e Estresse (DASS-21) e uma questão aberta referente às principais preocupações durante a pandemia. As prevalências de sintomas de depressão, ansiedade, estresse e foram estimados por intervalo de confiança de 95% (IC95%) e essas foram comparadas entre as diferentes etapas (dentro de cada categoria profissional) utilizando o teste z (α=5%). Conduziu-se análise de similitude para identificação da conexidade textual entre os relatos das preocupações. Participaram 6.609 estudantes (Etapas: 1: n=3.325; 2: n=1.402; 3: n=1.882) e 9.096 professores (Etapas: 1: n=3.924; 2: n=2.223; 3: n=2.949). A prevalência de depressão, ansiedade e estresse entre os professores participantes da Etapa 3 foi significativamente maior do que nas Etapas 1 e 2. Entre os estudantes as prevalências de sintomas de depressão e estresse foram maiores nas Etapa 2 e 3 enquanto a e ansiedade foi maior apenas na Etapa 3. As principais preocupações frente à pandemia relatadas pelos professores gravitam a partir de um único núcleo, nomeadamente a preocupação com a Saúde, e desta ramificam as demais preocupações das mais diversas áreas da vida com destaque para a família. Por outro lado, para os estudantes observamos 3 núcleos sendo que a Saúde se ramifica em outros dois agrupamentos principais, a família e a covid. A prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse entre estudantes e professores foi alta o que mostra a necessidade de medidas de atenção à saúde mental para proteção do bem-estar psicológico desses indivíduos. A saúde é o centro das preocupações dos professores enquanto para os estudantes as incertezas de futuro e o mercado de trabalho são preocupações que derivam do núcleo saúde. Financiamento: FAPESP: 2019/19590-9, 2020/08239-6, 2021/05228-6; CNPq 303118/2021-0

Referências

TELYANI, A. E.; FARMANESH, P.; ZARGAR, P. The Impact of COVID-19 Instigated Changes on Loneliness of Teachers and Motivation-Engagement of Students: A Psychological Analysis of Education Sector. Front Psychol, 12, p. 765180, 2021.
TRI SAKTI, A. M.; MOHD AJIS, S. Z.; AZLAN, A. A.; KIM, H. J. et al. Impact of COVID-19 on School Populations and Associated Factors: A Systematic Review. Int J Environ Res Public Health, 19, n. 7, Mar 29 2022.

Trabalho 4
#PROJETOSER


Bianca Gonzalez Martins
Luana Alves Guimarães
Bianca Núbia Souza Silva
Juliana Alvares Duarte Bonini Campos

Resumo

A pandemia de COVID-19 gerou uma ruptura na rotina das instituições e das pessoas e exigiu uma adaptação rápida que demandou a mobilização de recursos físicos, psíquicos e emocionais distintos daqueles habitualmente utilizados, o que pode ter gerado esgotamento e sobrecarga cognitiva, resultando no aumento dos sintomas de estresse, ansiedade e depressão. Nesse contexto, foi desenvolvido um projeto, que será implementado a partir de 2023, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF/UNESP) que pretende potencializar a qualidade da vida e o bem-estar no ambiente acadêmico considerando a coletividade e complexidade da instituição. As ações desse projeto dividiram-se em três etapas e foram desenvolvidas na perspectiva da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, com foco na transformação social. Na Etapa 1 considerou-se os indicadores de estilo de vida, bem-estar, sintomas relacionados à saúde mental, sofrimento, envolvimento acadêmico e burnout já coletados junto à comunidade da FCF/UNESP para subsidiar a elaboração das estratégias. Além desses indicadores também serão programadas interações dialógicas para identificar a construção da realidade, perspectivas, necessidades e problemáticas que serão consideradas no planejamento e execução das ações. Os diferentes atores da FCF (funcionários técnico-administrativos, docentes e estudantes de graduação e pós-graduação) atuarão no desenvolvimento das ações (Etapa 2). Inicialmente, foram planejadas doze ações, como por exemplo, yoga, meditação, acupuntura auricular, palestras, rodas de conversa, disciplina optativa, confecção de material escrito e escutatória. O projeto também contempla o oferecimento de psicoterapia breve e em grupos e a inclusão da área de saúde mental junto à unidade auxiliar de atendimento à comunidade da FCF. A Etapa 3 trata do monitoramento e reavaliação das ações. O monitoramento será realizado de maneira contínua e além dos indicadores relatados, os funcionários da FCF/UNESP também serão convidados a apontar sua percepção da saúde ocupacional. Essa etapa será realizada anualmente e o programa deverá ser mantido por pelo menos dez anos para avaliação temporal dos indicadores e mensuração do impacto e transformação social advindos do projeto. Foram estruturados espaços físicos específicos para o desenvolvimento das ações na FCF. Os dados obtidos serão analisados e interpretados à luz da literatura e apresentados à comunidade acadêmica e científica. Espera-se com esse projeto resgatar o sentimento de pertencimento dos atores da FCF, oferecendo espaços de descompressão e acolhimento que possam contribuir para a minimização do sofrimento psíquico e promoção de bem-estar a esses indivíduos.
Palavras-chave: Universidade; Bem-estar; Saúde mental.

Referências

CAMPOS, J. A. D. B.; CAMPOS, L. A.; BUENO, J. L.; MARTINS, B. G. Emotions and mood swings of pharmacy students in the context of the coronavirus disease of 2019 pandemic. Curr Pharm Teach Learn, 13, n. 6, p. 635-642, 2021.
CIANCONI, P.; TARRICONE, I.; VENTRIGLIO, A. Psychopathology in postmodern societies. Journal of Psychopathology, 21, p. 431-439, 2015.
FERRARO, A. M.; GUARNACCIA, C.; IACOLINO, C.; GIANNONE, F. Postmodernity: clinical and social reflections about new forms of psychopathology. Journal of Psychopathology, 22, p. 229-235, 2016.
TRI SAKTI, A. M.; MOHD AJIS, S. Z.; AZLAN, A. A.; KIM, H. J. et al. Impact of COVID-19 on School Populations and Associated Factors: A Systematic Review. International Journal of Environmental Research and Public Health, 19, n. 7, 2022.

Equipe #ProjetoSer: Luis Vitor Silva do Sacramento; Tais Maria Bauab; Mara Cristina Pinto; Marcel Otávio Cerri; Beatriz Buda Fuller; Adriano Palomino de Oliveira; Camila Rocha Vargas Rimoldi; Ilza Yogui;; Flávia Sousa de Jesus; Cristina de Fátima Maria; Lucas Arrais de Campos; Caio Humberto Perego; Tirene Pavanelli; Equipe do Centro de Pesquisas da Infância e Adolescência "Dante Moreira Leite" – CENPE; Cláudia Lucia Molina, Paulo Ricardo da Silva Sanches, Queila Simone Baraldo Leme, Alexandra Ivo de Medeiros, Lívia Nordi Dovigo, Patrícia Petromilli Nordi Sasso Garcia, Ricardo Luiz Nunes de Souza, Adriano Mondini.
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